MARCEL PEREIRA

31 outubro 2006

É um erro grave achar que o problema macroeconômico do Brasil já está equacionado

O quadro acima mostra a posição do Brasil no quadro de avaliação de risco nas duas principais agências classificadoras internacionais: S&P e Moody's. O Brasil segue na rabeira, enquanto outras nações emergentes "penetram" um mundo mais desenvolvido.

O recente controle da inflação nos últimos anos dá ao Brasil uma falsa impressão de "problema resolvido". Ingenuidade ...
O processo de ajuste está no meio de seu processo. As contas externas estão, por hora, arrumadas. O quadro fiscal ainda é vulnerável. A inflação ainda pode voltar se o processo de reformas não andar. Se o processo não se concluir, o desarranjo externo, fiscal, monetário e de preços volta. Por isso, o país ainda não saiu da rabeira na escala de risco soberano.

25 outubro 2006

Rio de Janeiro: mudança radical na esfera do Poder Econômico


Compartilhando, no gráfico acima, algumas contas sobre a evolução da participação do PIB do município do Rio no total do Estado.

20 outubro 2006

Brasil não terá 'Grau de Investimento' antes de 2009

Utilizando um conjunto de cinco indicadores estratégicos como cenário para mensurar o risco soberano do Brasil, busca-se avaliar a caminhada do país para alcançar o nível de investment grade junto às agências internacionais. Os cinco indicadores são: (1) dívida/PIB, (2) reservas/dívida externa, (3) dívida externa/exportações, (4) corrente de comércio/PIB, e (5) participação de papéis prefixados na composição da dívida mobiliária.
Para a construção destes cenários se teve como referência o nível em que tais indicadores se encontram em economias emergentes que já obtiveram o ‘grau de investimento’, como Chile, México e Rússia.
A nota do Brasil, nesse momento, está nivelada nas três maiores agências internacionais: “BB” na Standard and Poor’s e na Fitch, e “Ba2” na Moody´s (o que equivale ao “BB” nas demais). A nota mínima de investment grade é o “BBB-“ (triplo B menos). Falta, portanto, ao Brasil, galgar dois degraus.

No conjunto destes 5 indicadores, a principal dificuldade para a obtenção do investment grade antes de 2009 está na relação dívida/PIB.
O salto no “degrau final” depende da convergência da dívida líquida total para, pelo menos, 40% do PIB.

Para conseguir jogar a relação dívida/PIB para este nível antes de 2009, seriam necessários dois anos consecutivos (2007 e 2008) de taxa de crescimento do PIB acima de 5% ao ano, com superávit primário acima de 5% do PIB nesses dois anos e a taxa Selic (nominal) terminando 2008 abaixo de 10% ao ano. É muito pouco provável que aconteça!

O cenário mais provável até lá é: economia brasileira crescendo, na média, até 2009, 3,5% ao ano; com o superávit primário sendo mantido nestes três próximos anos entre 4,0% e 4,25% do PIB e a Selic convergindo para 10% ao ano.
Nestas condições, em 2009, a relação dívida/PIB se encontrará em um patamar ao redor de 43%, sinalizando que baixaria de 40% já em 2010. Nesse caso, já se desenharia um cenário favorável à obtenção do investment grade em 2009.

13 outubro 2006

Houve espaço para redução maior dos Juros


Os juros reais nos Estados Unidos estão na casa dos 2,35% ao ano (juros nominais de 5,25% e núcleo de inflação ao consumidor em doze meses em 2,8%). O prêmio de risco sobre títulos brasileiros no mercado internacional (risco-país) está na casa dos 230 pontos-base. Com isso, há margem para os juros reais no Brasil estarem na faixa dos 4,75% ao ano. Dada a meta de inflação do Banco Central de 4,5%, poderia-se afirmar que, com um pouco mais de ousadia, e sem nenhum descompromisso com a estabilidade da moeda, a Selic poderia estar em 10% ao ano (taxa de equilíbrio). Mesmo se imputássemos mais 2 pontos percentuais como “margem para arbitragem”, ainda assim falaríamos num juro nominal de 12%.

11 outubro 2006

Expectativa para o Copom: 13,75% ao ano

Não só pela leitura do atual ambiente econômico, mas com base também na análise da última ata, minha aposta é de que o Copom (Comitê de Política Monetária), na reunião do próximo dia 18 de outubro, deverá tomar a decisão de cortar novamente os juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, trazendo a taxa básica de juros para 13,75% ao ano.

09 outubro 2006

ARTIGO

Artigo "Brasil dividido debate seu rumo no 2° turno" no site Via Política: http://www.viapolitica.com.br/balcao_view.php?id_balcao=17

06 outubro 2006

Uma Nova Cara no Legislativo e nos Governos Estaduais

As eleições para a Câmara e o Senado trouxeram um quadro bastante complexo à administração da próxima gestão presidencial, seja ela qual for. Na Câmara, os partidos que conseguir maior votação foram PMDB e PT (coligação governista); no Senado ficaram com a maioria o PFL e o PSDB (coligação oposicionista). Será necessária a costura de muitos acordos para a garantia de uma boa governabilidade, porém, isso não deverá ser problema para um País em que há muitas décadas vive a constante realidade da costura de acordos.
O balanço final no Legislativo parece ter mais sinais positivos do que negativos. Apesar do sucesso de alguns nomes envolvidos em escândalos de corrupção, foi bastante elevada, para padrões brasileiros, a taxa de renovação em ambas as casas. O alto coeficiente de renovação foi a melhor das notícias para um País politicamente desgastado por seguidos escândalos.
Para Lula, a melhor notícia foi a volta de grande parte de sua “Guarda Palaciana”. Se reeleito, o papel estratégico de Palocci, Genoino e cia no Congresso, terá grande importância.
As eleições estaduais deram duas importantes vitórias, já em primeiro turno, para o PSDB. A eleição de José Serra, em São Paulo, e de Aécio Neves, em Minas Gerais, foram amplas e deram ao partido um importante poder de liderança. O partido também se fortaleceu com a ida de Yeda Crusius para o segundo turno no Rio Grande do Sul, onde ela medirá forçar com Olívio Dutra do PT, espelhando a bipolarização da corrida presidencial. A candidata do PSDB parece ser a favorita. Se vencer, dará ao PSDB a liderança de três dos quatro estados mais ricos da Federação.
Dos 4 estados economicamente mais fortes, só no Rio de Janeiro as possibilidades do PSDB são mais remotas. Denise Frossard sai atrás de Sérgio Cabral, do PMDB, que esteve perto da vitória em primeiro turno.
Já o PT, elegeu quatro governadores em primeiro turno: Bahia, Acre, Piauí e Sergipe. Para o segundo turno suas maiores esperanças deverão estar focadas no embate no Rio Grande do Sul contra o PSDB.
A nossa leitura do resultado das eleições estaduais é bastante positiva. Houve um novo corte político, com a queda de algumas velhas lideranças (sobretudo no Nordeste). A tendência parece ser a de se reforçar e melhorar o plano local, em um processo de aproximação às bancadas em Brasília.O perfil da maioria dos candidatos eleitos, sobretudo os que já demonstraram na história política brasileira ter maior liderança, embute um maior comprometimento com a responsabilidade fiscal e com qualidade de gestão
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05 outubro 2006

É possível haver mudança de resultado no 2º turno?

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 46.662.365 votos (48,61% do total de votos válidos – excluindo brancos e nulos). Geraldo Alckmin recebeu 39.968.369 (41,64% deste total). Por tanto, ambos ficaram separados por uma distância de 6,7 milhões de votos. É possível se inverter tal diferença?
Qual será a tendência de migração dos 6,6 milhões de votos recebidos por Heloísa Helena, candidata do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL? E os 2,5 milhões de votos recebidos por Cristovam Buarque, ex-ministro de educação de Lula? Eles tendem a automaticamente migrar para o candidato do PT? E qual será o destino dos 6 milhões de votos nulos e 2,8 milhões de votos brancos dados neste primeiro turno? Manter-se-ão nulos e brancos?
Onde haverá espaços, se é que haverá, para Alckmin tirar a diferença? A distância é grande, por tanto cabe analisar os estados nos quais ele foi superado por Lula na “casa do milhão”.
Na Bahia, Lula ficou 2,6 milhões de votos a frente de Alckmin. O estado é um tradicional reduto do PFL, aliado do PSDB. Mas na eleição estadual, a surpreendente vitória de Jacques Wagner (PT) sobre Paulo Souto (PFL) pode ser um indício de que há limitações à diminuição desta diferença no estado.
No Ceará, Lula o superou por 1,9 milhão de votos; na corrida estadual o governador eleito declarou apoio a Alckmin. No Maranhão, Lula o superou em 1,6 milhão, e o estado é reduto do ex-presidente José Sarney, aliado de Lula.
Em Pernambuco, a diferença a favor de Lula foi de 2 milhões, e haverá segundo turno entre candidatos do PFL (aliado do PSDB) e PSB (aliado do PT). Aí poderá haver espaço para “roubar votos”.
Em Minas Gerais, Lula venceu por 1 milhão de diferença. Houve outro 1,5 milhão de votos brancos e nulos no estado. Porém, a vitória estadual do PSDB foi avassaladora, com Aécio Neves, reeleito governador com 7,5 milhões de votos, mais de 77% do total. Colar no governador reeleito seria a estratégia para tentar angariar cerca de, pelo menos, 2 milhões de votos só em Minas.
No Rio de Janeiro, a vantagem de Lula foi de 1,7 milhão. Tradicional reduto do pensamento de esquerda, o estado terá segundo turno entre PMDB (que dá apoio nacional a Lula) e PPS (que declarou apoio a Alckmin), a margem aqui é baixa.Assim, Bahia, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais parecem ser os centros onde o PSDB teria maior margem para reverter a vantagem de seu opositor.

04 outubro 2006

O Retrato de um País Dividido

Em 1976, o economista Edmar Bacha criou a expressão “Belindia” para ajudar na compreensão da complexidade e da diversidade, política e econômica, existente dentro do Brasil. Avaliando o nível de desenvolvimento sócio-econômico das meso regiões brasileiras, com base no IDH, concluiu que havia dois “Brasis”, um com padrões similares à Bélgica, outro com padrões mais próximos ao da Índia.
Talvez, depois da divisão “economicista” de Bacha, em nenhum outro momento da história brasileira ficou geograficamente tão explícita, como ficou nesta eleição presidencial, a extremização de pólos opostos dentro do Brasil.
O mapa abaixo mostra isso. Em azul estão os estados onde Geraldo Alckmin recebeu mais votos. Em bege, os estados nos quais Luiz Inácio Lula da Silva foi agraciado com maior votação. À exceção de Roraima, uma “ilha alckmista” no extremo norte, na fronteira com a Venezuela, poder-se-ia passar uma “fronteira imaginária”, em diagonal, dividindo duas visões completamente distintas no que tange à compreensão de Brasil.
A “metade alckmista” concentra o maior centro econômico do Brasil (São Paulo), a região com melhor distribuição de renda e acesso à educação (os três estados da região Sul), o alto escalão do Serviço Público (Brasília) e o corredor do agronegócio (região de fronteira com o Paraguai, a Bolívia e a floresta Amazônica).
A “metade lulista” engloba a maior parte do Norte, todo o Nordeste, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Dividindo o País, há dois pesos na balança. De um lado o viés econômico associado à divisão de renda: houve aumento do poder de compra das camadas inferiores da pirâmide social nos últimos quatro anos, catalisado pela combinação do aumento mais expressivo do salário mínimo nos últimos 25 anos e a baixa inflação, sobretudo no que se refere ao custo de alimentos, que variaram só 2% em 2005 e começaram este ano em deflação. Isso levou o custo da cesta básica a cair de 70% para 55% do valor do salário mínimo entre 2002 e 2006.
Do outro lado o viés político, associado a escândalos de corrupção como uma agravante ameaça à democracia. Nos últimos dois anos emergiram suspeitas, envolvendo membros da cúpula do Governo, de compra de votos de deputados no Parlamento, de desvio de verba pública para dentro do partido do Presidente e de falsificação de provas contra candidatos opositores na corrida eleitoral.
A divisão geopolítica do País nas urnas demonstra como cada uma das partes equilibrou esses dois lados da balança e definiu o viés de seu voto.
Há outros fatores econômicos que também contribuíram a essa divisão. Um dos principais é a taxa de câmbio sobrevalorizada, que deflacionou os preços no atacado e permitiu o encolhimento da inflação, mas, por outro lado, também prejudicou os setores voltados ao mercado externo, sobretudo do eixo Centro-Sul, onde Alckmin ganhou mais votos.
O fato é que o segundo turno já está consumado e, no entender da RC Consultores, as implicações associadas à sua realização são positivas, uma vez que se favorecerá a melhor compreensão de onde haverá pontos de mudança na agenda econômica. Agora, há uma tendência a um debate mais amplo, com ambos os programas de governo mais expostos à reflexão do eleitor
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03 outubro 2006

Eleições 2006 expõem "dois Brasis"


Em azul os estados onde a vitória foi de Geraldo Alckmin. Em bege, aqueles onde a vitória foi de Luiz Inácio Lula da Silva.

02 outubro 2006

Brasil deve crescer 3,2% em 2006 e 3,7% em 2007

Após a divulgação de vários indicadores de desempenho da economia nacional e internacional nas últimas semanas, ficaram menores as projeções de crescimento do PIB brasileiro em 2006 e 2007. Para este ano, essa previsão foi revista de 3,5% para 3,2%. Para o próximo exercício, reduziu-se o incremento da economia brasileira de 4,0% para 3,7%.
Os principais fatores que pesaram nesse sentido foram:
Setor Externo: em setembro, houve forte declínio do preço das commodities no mercado externo, o que deverá resultar na desaceleração do crescimento da receita das exportações brasileiras, sobretudo no próximo ano. Com isso, o saldo da balança comercial de 2007 deverá recuar cerca de US$ 8 bilhões em relação a 2006, situando-se em US$ 35 bilhões.
Agronegócio: a safra de verão do próximo ano está irremediavelmente comprometida, o que deve levar, entre outros efeitos, à diminuição das exportações de soja, um dos principais itens da pauta brasileira. Desse modo, em 2007, à exemplo do ocorrido em 2006, o PIB Agrícola deverá ter modesta evolução, inibindo o crescimento de setores fornecedores de insumos e serviços para a lavoura.
Nível de atividade 1: a desaceleração do crescimento da produção no segundo trimestre foi mais intensa do que a esperada, gerando alguma elevação da ociosidade, o que deverá resultar em certa inibição do crescimento dos investimentos no final de 2006 e no primeiro semestre de 2007.
Nível de atividade 2: em linha com o exposto acima, o volume de vendas do varejo mostrou relativo enfraquecimento nos últimos meses, limitando seu crescimento à taxa de 4,2% em 2006. No primeiro semestre, a previsão era que o comércio varejista teria, neste ano, crescimento de 6,0%.
Nível de atividade 3: é nítida a percepção de que o Governo Federal, em 2007, deverá empreender um aperto nos gastos públicos para atingir o superávit primário de 4,25%, sobretudo após a elevação das despesas correntes no atual exercício.
Como resultante dos fatores mencionados acima, estima-se que:
O PIB agrícola cresça 1,7% em 2006; e 2,5% em 2007. O PIB industrial aumente, respectivamente, 3,8% e 4,0%. E o PIB de serviços tenha incremento de 3,2% e 3,7%, respectivamente.Nestes respectivos anos, de 2006 e 2007, sob a ótica da demanda, esperam-se os seguintes resultados: exportações crescem 1,6% e 0,9%; importações, 12,2% e 9,5%; consumo das famílias, 4,0% e 4,6%; consumo do governo, 1,8% e 1,1%; e investimentos 4,8% e 5,9%
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