MARCEL PEREIRA

19 outubro 2007

Manutenção da Selic não representa fim do ciclo de quedas

O Copom (Comitê de Política Monetária) demonstrou coerência e precaução quando decidiu manter os juros básicos em 11,25% ao ano. Tal decisão, entretanto, não significa o fim do ciclo de queda da Selic. Procura apenas esperar que a conjuntura se assente, visando avaliar melhor os efeitos da corrente pressão inflacionária no atacado e o comportamento futuro do preço do petróleo. Após a passagem dessas “nuvens” (e salve reversão mais brusca no cenário internacional), a expectativa é que o Copom retome a trajetória de redução dos juros no país.
Sazonalmente, o último trimestre do ano é um período de alta dos preços ao consumidor, por conta do aumento nas encomendas para as festas de fim de ano. Neste ano, há importante risco de que essa alta seja mais acentuada. Os últimos resultados do Índice de Preço no Atacado (IPA) mostraram forte elevação, e as primeiras prévias de outubro trazem ainda variações positivas bastante expressivas.
O momento atual de expansão da renda reforça a possibilidade de que haja importante repasse da inflação localizada no âmbito do atacado para a esfera do varejo. Com o bolso dos consumidores mais cheio do que nos anos anteriores, o aumento do preço dos bens e serviços não deverá comprometer o comportamento da demanda, podendo, assim, ser mais “tolerante” com a transferência da alta do custo dos insumos para o preço do produto final.


De todo o modo, é baixo o risco de comprometimento da meta de inflação, tanto para 2007, como para 2008, em função, principalmente, da recente redução da taxa média de câmbio, que transitou do patamar de R$ 1,95 / US$ para algo em torno de R$ 1,80 / US$, estabelecendo, aparentemente, um novo “centro de gravidade”.
Quanto ao reinício do ciclo de queda da taxa Selic, acredita-se que o mesmo só ocorra no primeiro semestre do ano que vem, depois da dissipação das atuais nuvens e do alcance de maior clareza e convergência de pensamento em relação ao comportamento futuro da inflação brasileira.