MARCEL PEREIRA

12 novembro 2007

Preços ao consumidor sob pressão altista no fim deste ano

As últimas variações dos índices de preço ao consumidor dão razão à ata do Copom: “elevou-se a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venha a apresentar riscos para a trajetória de inflação doméstica, uma vez que o aquecimento da demanda pode ensejar aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor”.
Neste momento, há um conjunto de razões que eleva o risco de alguma aceleração inflacionária:
1) Nos últimos três meses, a inflação acumulada no atacado (IPA-M) atingiu a desconfortável marca de 4,63%;
2) Preços internacionais das commodities agrícolas ainda mostram trajetória ascendente, exercendo pressão altista sobre o preço dos alimentos nos EUA, Europa, Japão e China;
3) Maior nível de renda das famílias reforça a possibilidade de repasse da inflação localizada no âmbito do atacado para a esfera do varejo;
4) Sazonalmente, os índices de preços ao consumidor sobem no final do ano, por causa das encomendas para as festas natalinas. Com maior nível de renda, o consumidor de bens e serviços deste ano estará “menos sensível” às tentativas de repasse eventualmente praticadas pelo varejo.
O IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Ampliado) de outubro revelou-se razoavelmente pressionado (0,30%), levando a inflação acumulada nos dez primeiros meses do ano a atingir a marca de 3,30%; e a acumulada nos últimos doze meses, o patamar de 4,12%.
Decompondo-se a variação acumulada do referido índice nos dez primeiros meses deste ano, observa-se que as maiores pressões de preços tiveram origem nos alimentos (+ 7,5%) e nas despesas pessoais (+ 5,0%). Ou seja, atingiu-se de forma mais contundente o bolso dos consumidores de menor poder aquisitivo.
A comparação entre dois índices de preço ao consumidor reitera o aperto sofrido pelo orçamento das famílias com renda mais baixa. O IPCA, calculado pelo IBGE, e que reflete a evolução dos gastos de famílias com rendimentos mensais de até 40 salários-mínimos, acumula variação em doze meses de 4,12%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também calculado pelo IBGE, junto a famílias com rendimentos mensais de até 8 salários-mínimos, acumula variação mais alta, de 4,78%, nos últimos doze meses.
Outros índices reiteram esta constatação. O Índice de Custo de Vida (ICV), calculado pelo DIEESE (Departamento intersindical) na região metropolitana de São Paulo, junto a famílias com rendimentos mensais de até 10 salários-mínimos, acumula variação semelhante ao INPC, de 4,86%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela FIPE, também restrito à região metropolitana de São Paulo, englobando famílias com rendimentos mensais de até 20 salários-mínimos, acumula variação similar, de 4,55%. Por fim, o Índice de Preços ao Consumidor calculado pela Fundação Getúlio Vargas (IPC-BR), junto a famílias com rendimentos mensais de até 33 salários-mínimos, acumula variação, nos últimos doze meses, de 4,51%. Ou seja, as condições observadas em 2006 estão agora invertidas. E quem sofre mais com a inflação é a camada de baixo da pirâmide sócio-econômica.
Como os índices de preços no atacado continuam evoluindo com taxas mensais não muito modestas, parece inevitável que a pressão inflacionária perdure no final deste ano e início de 2008. Ainda assim, inexiste risco de que a variação do IPCA supere, seja em 2007, seja em 2008, o centro da meta de inflação estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), isto é, a marca de 4,5%.