Ação do Fed contém o pânico, mas não espanta a crise
A medida, com certeza, impediu a queda acentuada que teria ocorrido nos índices Dow Jones e Nasdaq. Antes do referido anúncio, as bolsas asiáticas haviam fechado em queda ainda maior do que a observada no pregão anterior. E as bolsas européias já operavam com forte viés negativo. Sem o anúncio de corte de juros, seria uma terça-feira daquelas reservadas para os livros de história econômica.
O Fed agiu rápido e administrou o problema no curtíssimo prazo. É possível que tenha conseguido esfriar os ânimos para esse horizonte de tempo, mas, definitivamente, não pôs um ponto final para o atual ciclo de fortíssima instabilidade. A injeção de liquidez proporcionada pela antecipação do corte de juros minimizará os estragos apenas por certo tempo.
A sinalização dada pelo Governo Bush de usar um corte de impostos como estratégia para evitar a recessão foi muito mal recebida pelo mercado. A resposta dos investidores foi clara: os remédios de outrora não funcionarão agora.
Se em outros momentos de pré-estagnação, a injeção de liquidez, via corte de impostos, servia para aquecer o nível de atividade, a macroeconomia agora é outra. Há algumas boas razões para que desta vez seja diferente.
Primeiro, porque o nível de carga tributária já está baixo, uma vez que sua redução foi utilizada como resposta à desaceleração causada pelo estouro da bolha tecnológica, em 2000, e pelo ataque terrorista a Nova Iorque, em 2001.
Segundo, porque a moeda norte-americana está debilitada. Ela não andava tão frágil assim desde a corrida especulativa contra o dólar, após a segunda crise do petróleo, ocasião em que o então presidente do Fed, Paul Volcker, viu-se forçado a subir a taxa de juros para a casa dos dois dígitos.
E, por último, porque as contas públicas estão desajustadas, com relevante déficit fiscal; vulnerabilidade essa agravada por expressivo déficit comercial.
Toda esta conjuntura desequilibrada fez com que a taxa de inflação ao produtor fechasse 2007 com a maior variação dos últimos 26 anos, e a taxa de inflação ao consumidor mostrasse seu pior resultado nos últimos 17 anos.
O que o mercado esperava das Autoridades Monetárias dos EUA eram sinais de que tais problemas seriam contornados. A forte aversão ao risco dos investidores indicou que estes aguardavam um plano de ataque às vulnerabilidades estruturais, e não apenas ações pontuais de injeção de liquidez. Por hora, estes investidores ficaram mais calmos com a decisão tomada, mas estão certos de que o núcleo do problema não foi equacionado.
É bom o Governo Bush não comemorar antes da hora: um eventual ataque especulativo contra o dólar traria contornos distintos e mais graves ao ajuste atualmente circunscrito ao meio financeiro. Com efeito, uma crise de confiança afetando a moeda norte-americana traria problemas que ainda não se vislumbram. teria contornos distintos e mais graves ao ajuste atualmente circunscrito, o que não será bom para ninguém.