MARCEL PEREIRA

31 agosto 2006

Há trinta dias, eu, quase que solitariamente, defendia que era o mais provável o Copom cortar 0,5 ponto

Na ata divulgada em 27 de julho o termo a inserção do "maior" antes da já tradicional "parcimônia" assustou grande parte do mercado. As projeções foram refeitas, passando a considerar um corte de 0,25 p.p. ante à expectativa anterior de 0,5 p.p. Eu fiquei quase que solitário na defesa de que ainda prevalecia como mais provável o corte de meio ponto.
A opinião ficou registrada nas colunas de Luiz Sérgio Guimarães, no jornal Valor Econômico, de 28 de julho e 31 de julho:
28/07: "Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores, fez uma leitura da ata diferente da maioria dos seus pares. O cenário traçado pelo documento foi, na sua visão, tão benigno que não resta dúvida a respeito da continuidade do ritmo de corte da Selic em 0,50 ponto."Também não é para menos: a inflação brasileira acumulada nos 12 meses encerrados em junho passou a ser de 4,03%, estando menor do que a variação da inflação americana (IPC) no mesmo período, que foi de 4,22%", compara Pereira. Pelos seus cálculos, desde o biênio 1947-1948, o Brasil não tinha uma inflação menor que a verificada lá".
31/07: "Para firmar o consenso de que a taxa recuará apenas de 14,75% para 14,50% no dia 30 de agosto, as instituições se basearam num detalhe, pequeno mais significativo, depois que foi decifrado o código usado pelo BC para indicar desacelerações no ritmo de afrouxamento: se vai brecar a queda, ele junta "maior" à "parcimônia", mas se pretende manter a intensidade do desaperto tira o "maior", só deixa parcimônia. A última ata fala em "maior parcimônia". Mesmo assim, apenas o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, notou que o "maior parcimônia" sofreu agora uma atenuação. No parágrafo em que aparece o código de intenções, ao invés do simples "pode" empregado nas atas anteriores apareceu um "poderá demandar", um condicionante futuro desconhecido do mercado. "A conjugação do termo negativo está no futuro e numa relação causal: poderá demandar se piorar", interpreta Pereira".
A análise se concretizou em fato. Ontem, 30 de agosto, o Copom anunciou a redução da taxa Selic de 14,75% ao ano para 14,25% ao ano.

30 agosto 2006

Corte de 0,5 do Copom era mais do que justificável

Na última ata, divulgada em 27 de julho, referente à reunião de 18 e 19/07, o Comitê de Política Monetária fez a seguinte afirmação: o grau de incerteza no cenário internacional "poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia". Naquela ocasião os temores do mercado giravam, sobretudo, em torno da possibiliddade de a taxa de juros norte-americana ser elevada a 5,5% - o que não aconteceu na última reunião do Federal Reserve (8 de agosto) - e, até não parar por aí.

O Federal Reserve não só não elevou a taxa em mais 25 pontos base, como sinalizou na última Minuta, divulgada nesta terça-feira (29/08), que há evidências de que novas elevações dos fed funds significariam um apertado monetário demasiado, sendo os atuais juros de 5,25% ao ano suficientes para equilibrar a economia. Logo, arrefeceu o sinal de incerteza nos mercados internacionais ao qual se referia a 120ª Ata do Copom, portanto não haveria mais a necessidade de uma condução com maior parcimônia.

Todo o restante da última ata descrevia um cenário benigno. E este cenário perdura: queda do IPCA acima da esperada, "baixa probabilidade a um cenário de deterioração significativa nos mercados financeiros internacionais", o crescimento ainda moderado da atividade industrial e a utilização da capacidade instalada inferior à registrada no mesmo período do ano passado. Outro ponto de risco, o preço internacional do petróleo, arrefeceu depois da interrupção do conflito entre Israel e Líbano. Durante a reunião de julho, o preço do petróleo estava oscilando entre US$ 72 e US$ 73 e o Copom considerou que este nível não implicava em risco. Agora o preço do barril está um pouco abaixo dos US$ 72, tendendo mais a romper, para baixo, o nível de US$ 70.
Com o Fed tendo interrompido a sequência de elevações nos juros e com os resultados de inflação nos EUA amenizando o cenário de risco, o fluxo de capitais a mercados emergentes se ascentuará. A tendência de pressão por apreciação cambial gerada por este influxo de capitais tende a reforçar as expectativas de que os preços no atacado acumulem baixas taxas na previsão para 2007, aliviando eventuais fatores de pressão sobre os preços ao consumidor projetados para o próximo ano. Uma mudança no ritmo de corte da Selic faria com que a pressão de valorização cambial fosse muito maior. Para defender a moeda, o BC intensificaria o acúmulo de reservas, o que gera um custo em emissão de nova dívida. Ambos são um efeito indesejado, sendo mais um fator a favor da manutenção do ritmo de cortes de 0,5 ponto.

29 agosto 2006

Mercado Financeiro Brasileiro sofre com a "Ameaça Conservadora"

Na semana passada, o Ibovespa teve a expressiva redução de 4,25% em relação à semana anterior, voltando aos 35.958 pontos na última sexta-feira. Seu desempenho acompanhou a tendência da Bolsa de Nova York, que foi influenciada por uma onda de dúvidas quanto à capacidade de manutenção dos juros nos EUA em 5,25% a.a. até dezembro.
Os índices das principais Bolsas de Valores Hispano-americanas tiveram comportamento diferente ao da Bovespa na semana que passou. O IPC da bolsa mexicana manteve oscilação entre os 21.000 pontos, tendo caído 0,25% na semana; o Merval da bolsa argentina subiu 1,26% no acumulado da semana, voltando a apontar para os 1.700 pontos. O viés conservador dos juros no Brasil alimentou essa diferença de comportamento.
O risco-país calculado pelo JP Morgan - diferença entre o rendimento médio (juros) da carteira de títulos emitidos pelo país e o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano, tidos como de referência de risco zero – teve uma redução de 186 pontos-base nos últimos 12 meses. Em agosto, o EMBI Brasil ficou 27,5 pontos-base acima da média dos mercados emergentes; em maio, a diferença média era de 50 pontos-base; em junho, caiu para 40 pontos-base; e em julho, para 32 pontos-base.

23 agosto 2006

Comércio Varejista cresce, mas com o freio de mão puxado

O volume de vendas no comércio varejista caiu 0,38% em junho, segunda a última Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, uma queda que levou a taxa de variação acumulada em 12 meses para 4,22% - resultado levemente inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. Desde fevereiro de 2005 o crescimento do setor mantém-se num patamar quase constante, com taxas anualizadas entre 4% e 6%.
Entretanto, o volume total de receitas teve uma pequena queda de 0,26% em termos nominais; com isso, a variação em 12 meses caiu para 4,89%. O resultado acumulado em doze meses representa menos da metade do crescimento registrado no mesmo período findo em junho do ano passado. A diminuição no ritmo das receitas está fortemente correlacionada à queda de preços.

Comércio Exterior em julho voltou a esquentar

O saldo comercial nos últimos doze meses já soma US$ 45,3 bilhões. Contudo, o resultado acumulado já não cresce ao ritmo de aceleração observado até o fim de 2005 (fato visualmente perceptível com a ajuda da linha tracejada no gráfico ao lado). O saldo em 12 meses, apesar do câmbio apreciado, mantém-se em um patamar elevado, por conta de um efeito preço, já que as commodities, sobretudo as minerais, estão em alta no mercado internacional.
A variação na margem do comércio exterior indica uma tendência de desaceleração das exportações e de uma suave aceleração nas importações. Em julho, no entanto, as exportações somaram US$ 13,6 bi - 23% a mais do que o observado em julho de 2005 - amenizando este efeito de desaceleração sobre o valor acumulado no ano, que é de US$ 74,5 bi, 15% a mais que nos 7 primeiros meses de 2005.

21 agosto 2006

Brasil: uma Anão Financeiro num Oceano de Capitais

O estoque financeiro mundial, atualmente, é de US$ 120 trilhões. Até 2010 a economia mundial possuirá um estoque financeiro de US$ 208 trilhões entre títulos de dívida pública, títulos de dívida privada, depósitos bancários e seguros. As economias gigantes, que reterão a maior parte desta riqueza, serão EUA, Japão, Zona do Euro, India e China.
Segundo as previsões do relatório trimestral da McKinsey, a China terá, em 2010, pouco estoque de dívida público e privada, centrando suas reservas nos tradicionais depósitos bancários. Os EUA terão poucos depósitos bancários, poucos títulos de dívida pública e muitos títulos de dívida privada.
Já o Brasil, ao compasso que anda, estará numa posição absolutamente inferior. Enquanto o estoque financeiro das economias gigantes é de 400% a 600% do PIB, o Brasil mantém um quadro similar a "grandes economias de massa pobre", como Indonésia e Paquistão, onde a proporção é de 200% do PIB.

18 agosto 2006

Guerra Urbana: evidências e conclusões nos números de Orçamento Público

O IBGE divulgou uma pesquisa sobre as Despesas Públicas dos Governos Estaduais e Municipais entre 1999 e 2002. Há conclusões bastante interessantes a se tirar destes números.
Primeiro analisando os gastos estaduais com Pessoal Ativo: nestes quatro anos os gastos cresceram, em média, 3,9% ao ano em termos reais (descontando-se a variação da inflação de cada ano).
Com pessoal ativo em Educação houve um crescimento de ritmo mais lento, de 2,7% ao ano, e em escala decrescente: em 2000, sobre 1999, houve crescimento de 4,4%; em 2001, sobre 2000, cresceu 2,4% e em 2002 foi de 1,4%.
Enquanto isto, os gastos com o pessoal ativo na Saúde cresceram 7,5% ao ano, e em escala crescente; só em 2002 cresceu, sobre 2001, 10%.
E com segurança pública o crescimento foi de 6,5% ao ano.

É o reflexo da Guerra Urbana brasileira. Os altos índices de violência aumentam os gastos com segurança e exigem mais pessoal nos hospitais para atender aos feridos na Guerra. Enquanto isto não sobra espaço no orçamento para se remunerar mais o pessoal ativo da educação, os sofridos e heróicos professores do Brasil.

Tanto é assim, que a realidade na esfera municipal, que não é responsável pela segurança pública é outra. Neste período o gasto com pessoal ativo dos municípios cresceu 4,1% ao ano acima do IPCA. E com educação cresceu 5,7%! Eis o reflexo de não se ter a responsabilidade pública de zelar por segurança. As evidências estão aí, essas e muitas outras mais. A pergunta é: até quando seguiremos assim?

17 agosto 2006

Desenvolvimento Sustentável

Crises de Sustentabilidade e Valor das Ações
Casos Shell e ABN AMRO Bank
Por Gustavo Pimentel:
- Portal www.acionista.com.br (29/05/2006)
No último artigo foi abordado o tema da precificação da sustentabilidade. Embora tenhamos fortes indícios de que a sustentabilidade afete a performance e valor de mercado das companhias, como medir este impacto ainda continua como um questão a ser desvendada. Neste artigo, chamamos a atenção para a questão dos riscos sócio-ambientais que as empresas incorrem em seus projetos de expansão, no impacto que estes riscos podem ter na reputação corporativa e, consequentemente, na execução satisfatória destes projetos. Nossos personagens são reais: a gigante anglo-holandesa do petróleo Shell e o ABN AMRO, maior banco holandês e uma das 20 maiores instituições financeiras do mundo. A história é atualíssima: o controverso envolvimento dos personagens no projeto Sakhalin II. Para começar, faz-se necessário entender o embróglio ...

16 agosto 2006

Inflação sob baixa pressão em 2007

O IPCA, índice oficial para mensuração da taxa de inflação no Brasil e referência para o sistema de metas, que é calculado pelo IBGE, registrou uma alta de 0,19% em julho. Mesmo com um avanço de 0,33 p.p. em relação ao mês de junho, pela quinta vez consecutiva houve queda no acumulado em 12 meses desta taxa, que ficou em 3,97%, abaixo do centro da meta, que é 4,5%. O índice geral de preços (IGP-M), composto em 60% pela variação dos preços ao produtor - no atacado (IPA) - em 30% pelos preços ao consumidor (IPC) e em 10% pelos preços na construção civil (INCC), apresentou uma alta de 0,18% em julho. A taxa acumulada em 12 meses ainda está bastante baixa, em 1,40%. Há bem menos pressões inflacionárias do que, por exemplo, no mesmo período do ano passado. Como este ainda é o indexador de muitos contratos de serviços públicos, esta taxa reduzida representa pouca pressão inflacionária para o ano que vem.

15 agosto 2006

Mercado Norte-Americano

A principal referência em Bolsa de Valores nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, caiu 1,36% na última semana. A principal razão foi a ameaça de novos ataques terroristas à Inglaterra e aos EUA. Apesar da interrupção no ciclo de alta da taxa de juros, que deveria ter impulsionado o índice a romper os 11.200 pontos, o índice recuou para 11.088 pontos. Mas essa semana deverá romper esta resistência, que já foi testada duas vezes nos últimos 30 dias.
Os Fed Funds (juros norte-americanos), mantidos em 5,25% ao ano, deverão permanecer neste patamar até o ano que vem. E o dólar deve manter-se no canal entre US$ 1,26 e US$ 1,29 por euro.

14 agosto 2006

Mercado Financeiro

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo voltou a testar o teto de 38.000 pontos. Caso supere esta resistência, o índice deverá buscar os 40 mil pontos. Mas seu desempenho seguirá sob forte influência da Bolsa de Nova York, que tem sido influenciada pelos juros nos EUA e pelo preço internacional do petróleo.

Análise de mensuração do risco-país

O risco-país calculado pelo JP Morgan - diferença entre o rendimento médio (juros) da carteira de títulos emitidos pelo país e o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano, tidos como de referência de risco zero – teve uma redução de 166 pontos-base nos últimos 12 meses. O EMBI (Emerging Market Bonus Index) do Brasil segue 29 pontos-base acima da média dos mercados emergentes. Em maio a diferença média era de 50 pontos-base, em junho a média foi de 40 p.b. de diferença e em julho de 32 pontos-base.

11 agosto 2006

Tendências para o Preço do Petróleo

O preço internacional do barril de petróleo rompeu, estimuladas as especulações pelo conflito armado entre Líbano e Israel, o teto do canal dentro do qual vinha evoluindo desde junho de 2004. O preço estipulou um novo patamar, entre US$ 68 e US$ 75 o barril, havendo em alguns momentos o rompido, alcançando níveis superiores a US$ 77. Sem um aumento na capacidade de oferta da OPEP, a tendência é de se manter a evolução dentro do canal, que indica um fechamento em 2006 entre US$ 71,5 e US$ 77,5 por barril.

10 agosto 2006

Governança: Selo ou Pontuação

GOVERNANÇA CORPORATIVA: selo ou pontuação?
Por Gustavo Pimentel:
- Jornal Valor Econômico (17/01/2006)
- Revista Relações com Investidores (Fevereiro 2006)

O lançamento pela BOVESPA, em 2001, do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de Governança Corporativa, representou um marco para o mercado de capitais brasileiro, caracterizando-se como uma das mais bem sucedidas iniciativas de auto-regulação já vistas no país. No início do mês, após processo de consulta ao órgão regulador – Comissão de Valores Mobiliários – e às 63 empresas listadas em um dos referidos níveis de governança, a BOVESPA divulgou o enrijecimento das regras para o Nível 2 e Novo Mercado, o que demonstra o aspecto evolutivo da auto-regulação e a disposição da Bolsa no contínuo aperfeiçoamento do mercado. Dentre as principais alterações que entrarão em vigor no dia seis de fevereiro (...)

09 agosto 2006

Avaliação da Atividade Industrial de Junho

A queda de 1,67% na produção industrial geral em junho reduziu bastante o crescimento em 12 meses. O fraco resultado da indústria em junho foi influenciado por greves em montadoras e pelas ações terroristas do PCC em São Paulo. O setor de embalagens teve queda de 5,42% em junho. O resultado em 12 meses fica bem abaixo do crescimento de 4,44% do mesmo período de 2005. Houve desaceleração da indústria de embalagens, um sinal de perspectivas pouco favoráveis à indústria nos próximos meses. O nível de utilização da capacidade instalada, medido pela CNI, continua estável, por volta de 81%. A fraca expansão de 2005 e o barateamento de máquinas e equipamentos importados, via câmbio valorizado, permitem a manutenção deste patamar, que ainda é confortável no que tange a pressões sobre preços.