Foi divulgado nesta quarta-feira, 28 de março, o resultado revisado do PIB em 2006. Semana passada já se havia sido apresentado a revisão do desempenho entre 2000 e 2005. Com estes resultados, a taxa média de crescimento real na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva subiu de 2,7% ao ano para 3,3% ao ano.
O melhor desempenho, entretanto, não é suficiente para reverter o mau resultado relativo do Brasil frente ao resto da economia mundial. Segundo os dados do FMI, entre 2003 e 2006, a economia mundial, “surfando a onda” da abundância de liquidez nos mercados globais, cresceu, em média, 4,9% ao ano. Ou seja, o Brasil cresceu, por ano, somente 0,69 vez o que o mundo cresceu neste período.
Se comparado às quatro gestões anteriores que estiveram à frente da Presidência da República, considerando os mandatos de Fernando Collor de Melo e Itamar Franco como uma só gestão, não há melhoria (ver gráfico abaixo).
Portanto, nem tudo é positivo na constatação de que o Brasil cresceu mais do que se pensava nos últimos anos. O diagnóstico de que desajustes no modelo econômico estão “apertando o torniquete” mais do que seria necessário, permanece válido.
A nova metodologia adotada pelo IBGE aperfeiçoou o sistema de coletas de informação, incorporando ao cálculo do PIB uma maior base de dados. Dentre as principais mudanças de metodologia, destacam-se: redefinição da composição de formação bruta de capital fixo (investimentos diretos) e a incorporação de serviços novos (como: processamento de dados, banco de dados e distribuição on-line, atividades de áudio-visual e cinematográficas, e agências de notícias).
Na composição da taxa de investimentos, diminuiu-se a participação da construção civil e aumentou-se a de máquinas e equipamentos.
A incorporação de novos serviços levou a expansões maiores, concentradas em “comércio” e “consumo das famílias”. O agregado do setor de serviços aumentou sua participação total na formação do PIB de cerca de 55% para cerca de 65%. Este foi o fator mais expressivo na geração de uma taxa de crescimento maior.
O terceiro fator a gerar expansão maior neste período foi o setor público (que corresponde à cerca de 15% no resultado do PIB). A depreciação dos ativos do governo passou a ser agregada como “consumo do governo”. O valor da produção governamental passou a ser a soma entre: gastos de custeio, remunerações de funcionários e consumo do capital fixo (depreciação).
Em 2006, essa mudança fez a taxa de crescimento real da economia subir de 2,9% para 3,7%. O setor de serviços, que subira 2,4% na metodologia antiga, acumulou alta de 3,7%. A administração pública, que crescera 2,1% no resultado anterior, agora cresceu 3,1%. No consumo, o do governo subiu de 2,1% para 3,6% e o das famílias de 3,8% para 4,3%. As mudanças nos três setores da economia foram as seguintes: agropecuária de 3,2% para 4,1%, indústria de 2,8% para 3,0% e serviços (já citado) de 2,4% para 3,7%.
Quanto à obtenção do Investment Grade: a melhoria no resultado do PIB dos últimos anos não altera minha expectativa quanto à obtenção do grau de investimento pelo Brasil, ainda que melhore o resultado do indicador onde o país tem maior debilidade: a proporção entre a dívida e o PIB. O Brasil deverá conquistar o “triplo B menos”, nota mínima para a classificação como grau de investimento, em 2009. Havendo uma grande possibilidade de um upgrade nas agências para “duplo B mais” antes do fim de 2007, deixando o país a apenas um degrau do posto almejado.
A relação entre a dívida líquida e o PIB foi reduzida, com a revisão da metodologia feita pelo IBGE, de 49,7% para 46,5%. O nível que consideramos ideal para a obtenção do investment grade é abaixo de 40%. O dado revisado do PIB, por um lado reduz a proporção dívida/PIB no presente, mas por outro, reduz a velocidade da redução deste indicador anteriormente projetada. Com um PIB maior, reduz-se o resultado do superávit primário, sendo este menor do que aquele que antes utilizava-se na conta. A trajetória rumo ao nível inferior a 40% fica sendo, grosso modo, praticamente a mesma.
O outro indicador a representar uma debilidade na obtenção da nota é a proporção de títulos prefixados na composição da dívida mobiliária. Este resultado não sofre alterações com o PIB maior. Hoje, os papéis prefixados representam cerca de 32% da dívida, bem abaixo do nível de qualidade na administração da dívida que consideramos a vulnerabilidade mínima compatível ao grau de investimento: 50%. Por essas razões, sustento minha aposta. O Brasil deverá conseguir atingir a nota que lhe garantirá o investment grade em 2009.