MARCEL PEREIRA

21 março 2007

Tensão pré-Fomc trava mercados

* coluna de Luiz Sérgio Guimarães no VALOR ECONÔMICO de 21 de março de 2007.
A tensa expectativa que cerca a reunião de hoje do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês) do Federal Reserve (Fed) travou a maior parte dos mercados e segurou a queda do dólar. Os investidores optaram por não ampliar as suas apostas. A maior parte dos analistas não prevê mudanças significativas no comunicado pós-reunião - juro básico mantido em 5,25% e insistência na preocupação do Fed com as pressões inflacionárias, relegando para segundo plano os sinais de desaceleração econômica -, mas não quiseram ontem se comprometer operacionalmente com esta crença.
Poucos investidores assumem um viés mais otimista. Uma nota pós-Fomc adepta da idéia de que a inflação caminhará naturalmente para um patamar anual abaixo de 2% e de que a atividade econômica irá desaquecer-se apenas moderadamente será capaz de restaurar a euforia nos vários mercados. Mas não se descarta o oposto disso, a adoção de um tom bem mais sombrio em nota carregada de advertências. Na dúvida, os mercados não saíram do zero-a-zero ontem.

Dólar cai a R$ 2,0780 e chega ao piso do ano
Em pregão de reduzida volatilidade, a maior parte dos contratos futuros de juros negociados na BM&F fechou estável ontem. A exceção foi o contrato mais negociado, para janeiro de 2009, que cedeu 0,01 ponto, para 11,79%. O risco-país permaneceu sem alteração, a 185 pontos-base, durante a maior parte do dia. E o dólar caiu apenas 0,04%, cotado a R$ 2,0780, o mesmo valor do piso do ano, marcado no dia 21 de fevereiro. O menor preço anterior a este, de R$ 2,0610, foi alcançado em 10 de maio de 2006, justamente em dia de reunião do Fomc.
Se o Fomc descartar a possibilidade de recessão no fim do ano, assumindo uma visão anti-Greenspan, o fluxo de dólares em direção ao Brasil será ampliado. A RC Consultores acredita que, se a política monetária não for alterada, o dólar poderá chegar a R$ 1,90 até o terceiro trimestre. A consultoria desenvolveu modelo econométrico considerando manutenção do ritmo de queda da taxa Selic em 0,25 ponto por reunião do Copom, reservas internacionais acima de US$ 100 bilhões e risco-país com tendência a cair a 160 pontos-base. A variável-chave é a velocidade de corte do juro básico. Pelo modelo, se o BC restaurasse o compasso de 0,50 ponto de queda, o dólar não teria forças para cair abaixo de R$ 2,10 no penúltimo trimestre de 2007.
A RC Consultores argumenta que não haveria conseqüências nocivas à inflação se o Copom voltasse a diminuir a Selic ao ritmo de 0,50 ponto. Isso porque a taxa ainda carrega uma gordura considerável. O BC poderia reduzir o juro real para a faixa de 7% (hoje está em 8,5%) sem medo de provocar fuga de capitais estrangeiros. Esse juro real de 7% é o que os investidores aceitam sem aversões para adquirir papéis brasileiros lá fora, pois é o resultado da soma da taxa básica americana (5,25%) e do risco-país (ontem de 185 pontos-base). Este ganho real de 7,10% mais a expectativa de IPCA para o acumulado do ano de 3,87%, segundo o boletim Focus, equivale a uma Selic de 11,24%. Ou seja, o juro básico brasileiro poderia cair 1,5 ponto sem gerar instabilidades cambiais. Isto, se o BC quiser, de fato, cumprir a meta de inflação de 4,5% para este ano. Mas a RC desconfia que os seus planos são outros. "Claramente, há outra orientação na condução da política monetária, cujo propósito não é mais, apenas, o de atingir os 4,5% de inflação. Essa mudança é altamente significativa", diz Marcel Pereira, economista-chefe da consultoria.
Como a ata do Copom sinalizou a continuidade, não se sabe até quando, do ritmo de 0,25 ponto, muito em breve, segundo Pereira, o dólar estará abaixo de R$ 2,00. "A conseqüência será uma menor aceleração do crescimento da economia, já que os preços dos produtos brasileiros ficam menos competitivos no mercado externo e os juros domésticos enxugam liquidez no mercado interno", diz o economista.
Diante do conteúdo conservador da ata do Copom e da melhora constatada no cenário externo, LCA alerta que poderá alterar as projeções de Selic e de taxa de câmbio para o final do ano incorporadas em seu cenário básico. Por ora, ainda mantém estimativa de 10,75% para a taxa básica e de R$ 2,25 para o dólar, ambas das mais otimistas do mercado.
O BC irá realizar hoje à tarde pesquisa junto aos seus 17 dealers de câmbio para conhecer o interesse dos credores em renovar os contratos de swaps cambiais reversos que irão vencer no dia 2 de abril. A consulta é pró-forma. Na verdade, como os contratos rendem a Selic e esta paga o maior juro real do mundo, os bancos sempre estão interessados em revalidá-los. O estoque total de swaps reversos em poder dos bancos alcança US$ 12 bilhões
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