MARCEL PEREIRA

06 março 2007

Onde há e onde não há razão para o ‘pânico’ instalado no mercado financeiro global

* Este artigo foi publicado no SR Journal (www.srjournal.com.br)
Os últimos dias foram muito agitados, com muita tensão nos mercados financeiros globais. A poeira ainda não baixou, mas já há um pouco mais de base para a análise das causas e conseqüências por trás desta recente turbulência.
Há dois grandes atores nesta tensa conjuntura: China e Estados Unidos. Ambos são casos interligados, porém, com suas particularidades. A China foi o estopim da tensão, mas o centro da questão está nos Estados Unidos.
Tudo começou na China, com o anúncio de que o Governo fará um esforço maior para enxugar parte do excesso de liquidez de sua economia, visando aumentar a rigidez das regras para concessão de crédito e melhorar a qualidade dos empréstimos concedidos.
O Governo Chinês transmitiu a seguinte mensagem de que pretende amenizar o atual ritmo de crescimento para estendê-lo por mais tempo. Foi o suficiente para a deflagração de um movimento de “manada”, aumentando a aversão ao risco em todos os mercados.
A China manterá um ritmo ainda forte de crescimento, mesmo com as medidas de contenção de crédito atingindo seu objetivo. O PIB chinês ainda continuará crescendo na faixa de mais de 8% ao ano (ligeiramente abaixo da taxa de 10% ao ano na qual atualmente evolui).
O efeito primário desta expectativa de uma leve desaceleração chinesa atingiu as ações das companhias exportadoras de commodities, uma vez que a China é a principal consumidora de commodities do mercado internacional. A perspectiva de um eventual declínio do seu nível de atividade econômica gerou sensível retração, em escala mundial, do preço das ações de empresas ligadas a exportação destes produtos básicos.
Os investidores, juntamente, aproveitaram a instalação desta conjuntura para correr em direção a uma mega-operação global de realização de lucros. Houve em todas as Bolsas, portanto, um movimento de ajuste de preços dentro um ambiente com grande fartura de liquidez. Trata-se, de um momento de rearranjo da carteira de apostas, apropriando-se antes dos resultados positivos obtidos pelos investimentos realizados durante o longo período de bonança.
É interessante reparar um caráter nesta crise: A cotação do ouro recuou fortemente, a despeito da crise financeira internacional. O preço da commodity despencou 6% em uma semana. Este fato chama a atenção, dando uma cara mais de caráter especulativo do que de crise de confiança à atual crise. Em momentos de crise de confiança, a tendência é que a demanda por ouro cresça, já que este é um ativo de alta liquidez, uma reserva anti-risco. O mercado parece estar precificando uma turbulência e um nível de risco inexistentes há 10 dias. Daqui para frente, não há indícios de que a liquidez terá drástica redução. A China seguirá crescendo em bom ritmo, e mantendo, assim, a demanda global aquecida. Mas no caso de um cenário com menor crescimento chinês, será colocado em pauta outro ponto da conjuntura internacional: a China tem sido a grande financiadora do déficit dos Estados Unidos. Crescendo menos, seu apetite por títulos públicos norte-americanos diminuiria
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