Tombo do dólar ...
* coluna de Luiz Sérgio Guimarães, Valor Econômico de 27/08/07
O dólar já retornou ao preço em que estava antes de o Banco Central suspender os seus leilões diários de compra de moeda. O dólar fechou sexta-feira com desvalorização de 2,36%, negociado a R$ 1,9440, exatamente a cotação do dia 13, quando adquiriu do mercado US$ 306 milhões. A partir do dia 14, com a intensificação da crise financeira externa, interrompeu os leilões. De lá para cá, exatos nove pregões, não comprou nem vendeu nada. A recuperação do nível anterior ao da suspensão das intervenções e o pesado tombo sofrido pelo dólar na semana passada - de 4,09%, embora no acumulado do mês ainda se registra valorização de 3,24% - levam os analistas a suspeitaram que, se o cenário externo autorizar novas baixas, logo o BC irá retomar os leilões.
Uma parte do mercado, a mais numerosa, gostaria que o BC não tivesse pressa em sua volta. "Vendida" em dólar futuro, as instituições argumentam que o mercado de câmbio ainda não está forte a ponto de suportar volatilidades eventualmente trazidas pelas operações do BC. O argumento é tosco. O BC sempre frisou que as suas compras se destinam a recolher as sobras de liquidez do sistema, justamente a quantidade exata que, sem ser enxugada, desencadeia volatilidade capaz de distorcer o preço. A preocupação da autoridade é não interferir na tendência, mas moderar excessos e formar reservas.
Há executivos, porém, que defendem o retorno imediato do BC ao câmbio também como forma de emitir um sinal positivo do ponto de vista das expectativas de inflação. Se deixar o dólar afundar, pode passar o recado de que está preocupado com a inflação, disparando mecanismos de proteção nos mercados futuros contra eventual e desnecessário endurecimento da política monetária. Ao contrário, se agisse logo iria transmitir confiança em relação aos rumos do IPCA. A conseqüência mais financeira da retomada dos leilões - o crescimento das reservas cambiais - reforçaria a já elevada credibilidade externa do país. Na sexta-feira, o risco-país voltou a ser cotado, durante a tarde, abaixo de 200 pontos-base.
Fechou a exatos 200 pontos-base, em queda de 3,38%. No mês, cedeu 6,10%. O terremoto financeiro externo provocou ondas de menor intensidade no Brasil comparativamente aos abalos sofridos pelos demais países emergentes. Segundo estudo do economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, a diferença entre o risco-Brasil e o Embi+ (o conjunto de emergentes) alargou-se com a crise. Ou seja, o risco-Brasil subiu menos que a média. A taxa de risco do país situa-se, desde o dia 5 de abril, abaixo da média apurada pelo Embi+. Entre 19 de abril e 26 de junho, a distância que separava o risco do país da média de risco dos emergentes era da ordem de 11 pontos-base. Em 27 de junho, quando houve uma primeira sacudida no mercado, a diferença a favor do Brasil caiu bruscamente. Passado o impacto desse primeiro tremor, a diferença voltou a crescer. Entre 29 de junho e 14 de agosto, subiu para 15 pontos-base. E desde o 15 de agosto, após outra onda de turbulências, a distância se ampliou situando-se na faixa de 23 pontos-base. "O Brasil deixou de ser o patinho feio do mercado emergente. Arduamente, conseguiu destaque frente à média das economias emergentes", diz Pereira.
As rotas do dólar e do risco-país ainda dependem, em sua essência, mais dos desdobramentos da crise de crédito externa do que dos fundamentos brasileiros. Eufóricos na sexta-feira, os mercados tentaram abreviar a crise. Ainda é cedo para se por um ponto final nela. Mas o movimento de alegre distensão nos EUA favorece a absorção dos créditos pobres pelas instituições. Não é todo dia, contudo, que saem indicadores positivos sobre a economia americana e que mereçam leitura generalizadamente positiva. Foi o que aconteceu na sexta. Tanto as encomendas de bens duráveis (alta de 5,9% em julho, para expectativa de avanço de 1%) quanto as vendas de casas novas (evolução de 2,8%, quando se esperava queda de 1,4%) foram olhadas pelo seu melhor ângulo, o que espanta a perspectiva de uma recessão na economia americana. O seu lado negativo - a possibilidade de, por isso, o Federal Reserve (Fed) não cortar o juro básico em sua reunião de 18 de setembro - foi providencialmente esquecido. Os eventos desta última semana do mês serão vistos com lupa. Hoje, sai o indicador de venda de imóveis usados relativo a julho. Amanhã, o índice de confiança do consumidor em agosto e o de manufaturados apurado pelo Fed de Richmond. Mas o dia crítico parece ser mesmo a sexta-feira. Além de discurso do presidente do Fed, Ben Bernanke, será divulgado o principal índice de inflação, o PCE de julho.
Uma parte do mercado, a mais numerosa, gostaria que o BC não tivesse pressa em sua volta. "Vendida" em dólar futuro, as instituições argumentam que o mercado de câmbio ainda não está forte a ponto de suportar volatilidades eventualmente trazidas pelas operações do BC. O argumento é tosco. O BC sempre frisou que as suas compras se destinam a recolher as sobras de liquidez do sistema, justamente a quantidade exata que, sem ser enxugada, desencadeia volatilidade capaz de distorcer o preço. A preocupação da autoridade é não interferir na tendência, mas moderar excessos e formar reservas.
Há executivos, porém, que defendem o retorno imediato do BC ao câmbio também como forma de emitir um sinal positivo do ponto de vista das expectativas de inflação. Se deixar o dólar afundar, pode passar o recado de que está preocupado com a inflação, disparando mecanismos de proteção nos mercados futuros contra eventual e desnecessário endurecimento da política monetária. Ao contrário, se agisse logo iria transmitir confiança em relação aos rumos do IPCA. A conseqüência mais financeira da retomada dos leilões - o crescimento das reservas cambiais - reforçaria a já elevada credibilidade externa do país. Na sexta-feira, o risco-país voltou a ser cotado, durante a tarde, abaixo de 200 pontos-base.
Fechou a exatos 200 pontos-base, em queda de 3,38%. No mês, cedeu 6,10%. O terremoto financeiro externo provocou ondas de menor intensidade no Brasil comparativamente aos abalos sofridos pelos demais países emergentes. Segundo estudo do economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, a diferença entre o risco-Brasil e o Embi+ (o conjunto de emergentes) alargou-se com a crise. Ou seja, o risco-Brasil subiu menos que a média. A taxa de risco do país situa-se, desde o dia 5 de abril, abaixo da média apurada pelo Embi+. Entre 19 de abril e 26 de junho, a distância que separava o risco do país da média de risco dos emergentes era da ordem de 11 pontos-base. Em 27 de junho, quando houve uma primeira sacudida no mercado, a diferença a favor do Brasil caiu bruscamente. Passado o impacto desse primeiro tremor, a diferença voltou a crescer. Entre 29 de junho e 14 de agosto, subiu para 15 pontos-base. E desde o 15 de agosto, após outra onda de turbulências, a distância se ampliou situando-se na faixa de 23 pontos-base. "O Brasil deixou de ser o patinho feio do mercado emergente. Arduamente, conseguiu destaque frente à média das economias emergentes", diz Pereira.
As rotas do dólar e do risco-país ainda dependem, em sua essência, mais dos desdobramentos da crise de crédito externa do que dos fundamentos brasileiros. Eufóricos na sexta-feira, os mercados tentaram abreviar a crise. Ainda é cedo para se por um ponto final nela. Mas o movimento de alegre distensão nos EUA favorece a absorção dos créditos pobres pelas instituições. Não é todo dia, contudo, que saem indicadores positivos sobre a economia americana e que mereçam leitura generalizadamente positiva. Foi o que aconteceu na sexta. Tanto as encomendas de bens duráveis (alta de 5,9% em julho, para expectativa de avanço de 1%) quanto as vendas de casas novas (evolução de 2,8%, quando se esperava queda de 1,4%) foram olhadas pelo seu melhor ângulo, o que espanta a perspectiva de uma recessão na economia americana. O seu lado negativo - a possibilidade de, por isso, o Federal Reserve (Fed) não cortar o juro básico em sua reunião de 18 de setembro - foi providencialmente esquecido. Os eventos desta última semana do mês serão vistos com lupa. Hoje, sai o indicador de venda de imóveis usados relativo a julho. Amanhã, o índice de confiança do consumidor em agosto e o de manufaturados apurado pelo Fed de Richmond. Mas o dia crítico parece ser mesmo a sexta-feira. Além de discurso do presidente do Fed, Ben Bernanke, será divulgado o principal índice de inflação, o PCE de julho.
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