Brasil se diferencia na crise
Artigo de Cristiano Romero, Valor Econômico, 8 de agosto de 2007
A recente turbulência no mercado financeiro internacional, motivada por problemas no setor de crédito dos Estados Unidos, mostra que, apesar dos riscos e da elevada volatilidade, a economia mundial se encontra hoje mais forte do que há dez anos, quando aconteceu a crise asiática. Uma outra novidade interessante é que, hoje, os mercados emergentes estão mais robustos e resistentes a perturbações.
Em sua análise mais recente, o Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do Fundo Monetário Internacional (FMI), criado no início desta década justamente para acompanhar mais de perto os mercados financeiros internacionais, constatou que a turbulência confinou-se essencialmente ao setor de crédito. Os fluxos de capitais para os fundos mútuos de mercados emergentes, tradicionalmente considerados os ativos de maior risco, sofreram pouco impacto.
Embora ainda seja muito cedo para comemoração, o Brasil se mostrou, em meio ao nervosismo, mais forte do que se esperava. Isso está se refletindo no comportamento dos papéis brasileiros. "Em um primeiro momento (da forte onda de volatilidade), houve expressivo estreitamento entre o valor de face dos papéis brasileiros e o da média dos mercados emergentes. Ou seja, diminuiu, consideravelmente, a distância entre o EMBI-Brasil e o EMBI+, que é a média dos países emergentes. Em seguida, ocorreu uma 'diferenciação por qualidade', com o aumento, a favor do Brasil, da distância entre o risco dos títulos brasileiros e a média dos títulos emergentes", diz Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores.
O "salto de qualidade" dos ativos brasileiros, observa o economista, também pode ser visto no mercado acionário. A Bovespa, conta Pereira, já superou, em 2007, a rentabilidade da Bolsa do México. "Portanto, o Brasil colhe, também no mercado de capitais, os frutos de seu ajuste macroeconômico. Nesse ambiente favorável, não há dúvida de que a perspectiva de aceleração da economia brasileira, com estabilidade de preços, diminui o risco relativo de se investir no país", assinala o economista da RC.
Patinho feio dos mercados nas últimas duas décadas, a América Latina registrou, com a liderança brasileira, o melhor desempenho em ações entre janeiro e junho. No período, segundo dados do FMI, a rentabilidade média das bolsas da região foi de 25,3%, face a 17,3% das bolsas asiáticas e a 16,1% do índice "MSCI Emerging Markets".
Embora os analistas estejam prevendo uma crise "passageira", os riscos de turbulência, de qualquer maneira, continuam postos. "O cenário básico é positivo, mas, agora, há mais riscos negativos do que antes", adverte o economista Murilo Portugal, vice-diretor do FMI. Um desses riscos é a inflação. Há cinco anos a economia mundial cresce sem parar, o que leva a crer que a capacidade de produção pode estar chegando ao limite. Os países emergentes, diz a última atualização do "World Economic Outlook", produzido pelo FMI, estão enfrentando pressões inflacionárias, especialmente em energia e alimentos.
Ontem, o Federal Reserve, o banco central americano, deixou claro, ao manter inalterada a taxa de juros, que está preocupado com o crescimento da maior economia do mundo. Face a uma expansão de 3,3% em 2006, o PIB dos EUA deve crescer apenas 2% em 2007, embora o FMI aposte numa recuperação em 2008 (2,8%). A dúvida é mensurar que impacto os problemas creditícios terão no comportamento de uma economia cujo consumo é fortemente alavancado por crédito fácil e barato.
Títulos e ações do país se destacam em 2007
As outras vulnerabilidades do mercado mundial, lembra Murilo Portugal, estão no mercado financeiro e não dizem respeito apenas à crise do crédito imobiliário nos EUA. O vice-diretor do FMI menciona as fusões e incorporações de empresas feitas mundo afora com recursos de empréstimos bancários. Outro problema é o "carry-trade", o dinheiro que investidores tomam em países de juros baixíssimos, como Japão, Austrália, Suíça e Nova Zelândia, para aplicar em mercados, como o brasileiro, que estão devolvendo alta rentabilidade tanto em renda fixa quando em variável.
O risco, nesse caso, não é o da arbitragem usual de taxa de juros feita pelos investidores, fato que responde por uma parte do dinheiro que inunda os mercados emergentes neste momento. O problema é quando se faz isso, diz Portugal, com dinheiro de empréstimo bancário. Outro risco, inerente ao "carry-trade", é a valorização das moedas em que os empréstimos foram tomados.
Em sua análise mais recente, o Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do Fundo Monetário Internacional (FMI), criado no início desta década justamente para acompanhar mais de perto os mercados financeiros internacionais, constatou que a turbulência confinou-se essencialmente ao setor de crédito. Os fluxos de capitais para os fundos mútuos de mercados emergentes, tradicionalmente considerados os ativos de maior risco, sofreram pouco impacto.
Embora ainda seja muito cedo para comemoração, o Brasil se mostrou, em meio ao nervosismo, mais forte do que se esperava. Isso está se refletindo no comportamento dos papéis brasileiros. "Em um primeiro momento (da forte onda de volatilidade), houve expressivo estreitamento entre o valor de face dos papéis brasileiros e o da média dos mercados emergentes. Ou seja, diminuiu, consideravelmente, a distância entre o EMBI-Brasil e o EMBI+, que é a média dos países emergentes. Em seguida, ocorreu uma 'diferenciação por qualidade', com o aumento, a favor do Brasil, da distância entre o risco dos títulos brasileiros e a média dos títulos emergentes", diz Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores.
O "salto de qualidade" dos ativos brasileiros, observa o economista, também pode ser visto no mercado acionário. A Bovespa, conta Pereira, já superou, em 2007, a rentabilidade da Bolsa do México. "Portanto, o Brasil colhe, também no mercado de capitais, os frutos de seu ajuste macroeconômico. Nesse ambiente favorável, não há dúvida de que a perspectiva de aceleração da economia brasileira, com estabilidade de preços, diminui o risco relativo de se investir no país", assinala o economista da RC.
Patinho feio dos mercados nas últimas duas décadas, a América Latina registrou, com a liderança brasileira, o melhor desempenho em ações entre janeiro e junho. No período, segundo dados do FMI, a rentabilidade média das bolsas da região foi de 25,3%, face a 17,3% das bolsas asiáticas e a 16,1% do índice "MSCI Emerging Markets".
Embora os analistas estejam prevendo uma crise "passageira", os riscos de turbulência, de qualquer maneira, continuam postos. "O cenário básico é positivo, mas, agora, há mais riscos negativos do que antes", adverte o economista Murilo Portugal, vice-diretor do FMI. Um desses riscos é a inflação. Há cinco anos a economia mundial cresce sem parar, o que leva a crer que a capacidade de produção pode estar chegando ao limite. Os países emergentes, diz a última atualização do "World Economic Outlook", produzido pelo FMI, estão enfrentando pressões inflacionárias, especialmente em energia e alimentos.
Ontem, o Federal Reserve, o banco central americano, deixou claro, ao manter inalterada a taxa de juros, que está preocupado com o crescimento da maior economia do mundo. Face a uma expansão de 3,3% em 2006, o PIB dos EUA deve crescer apenas 2% em 2007, embora o FMI aposte numa recuperação em 2008 (2,8%). A dúvida é mensurar que impacto os problemas creditícios terão no comportamento de uma economia cujo consumo é fortemente alavancado por crédito fácil e barato.
Títulos e ações do país se destacam em 2007
As outras vulnerabilidades do mercado mundial, lembra Murilo Portugal, estão no mercado financeiro e não dizem respeito apenas à crise do crédito imobiliário nos EUA. O vice-diretor do FMI menciona as fusões e incorporações de empresas feitas mundo afora com recursos de empréstimos bancários. Outro problema é o "carry-trade", o dinheiro que investidores tomam em países de juros baixíssimos, como Japão, Austrália, Suíça e Nova Zelândia, para aplicar em mercados, como o brasileiro, que estão devolvendo alta rentabilidade tanto em renda fixa quando em variável.
O risco, nesse caso, não é o da arbitragem usual de taxa de juros feita pelos investidores, fato que responde por uma parte do dinheiro que inunda os mercados emergentes neste momento. O problema é quando se faz isso, diz Portugal, com dinheiro de empréstimo bancário. Outro risco, inerente ao "carry-trade", é a valorização das moedas em que os empréstimos foram tomados.
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