Nada abala "viés parcimonioso" do Copom
* matéria publicada no VALOR ECONÔMICO em 12 de abril de 2007
A substituição do diretor de Política Monetária do Banco Central, a aproximação do dólar da barreira dos R$ 2,00 e o tom imprevisto da última ata do Federal Reserve (Fed) não alteram a tendência de o Comitê de Politica Monetária (Copom), que volta a se reunir na próxima quarta-feira, de manter em 0,25 ponto a velocidade de queda da taxa Selic. Esta é a projeção de 11 dos 12 analistas consultados ontem pelo Valor. A decisão de cortar a Selic de 12,75% para 12,50%, por já ter sido amplamente sinalizada pelo BC, tende a ser cumprida no dia 18. Mas a maioria dos analistas considera provável que o Copom volte ao ritmo anterior de queda, de 0,50 ponto, no encontro seguinte, marcado para 6 de junho, desde que os mercados internacionais não piorem até lá, provocando alta do dólar, por causa da indicação do Fed de que poderá voltar a subir o juro.
A maior parte dos especialistas entende que a troca no comando da diretoria de Política Monetária altera o perfil conservador do Copom. Paulo Tenani, estrategista do UBS Wealth Management, diz que, gradativamente, a diretoria do BC "vai convergindo para uma composição mais adaptada a uma realidade de juros mais baixos". No seu entender, podem estar aumentando as chances de um retorno dos cortes de 0,50 ponto, "se não nesta, nas próximas reuniões". Isto não tem influência imediata sobre a tendência do dólar, já que o diferencial de juros persistirá muito amplo. Apenas quando a Selic cair abaixo de 10%, o viés de apreciação poderá ser mudado.
O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, acredita que, tecnicamente, a revisão do PIB dá margem, mesmo com todo o conservadorismo e a cautela do Copom, para um ritmo mais acentuado nos cortes. O Copom poderia perfeitamente já cortar 0,50 agora e se explicar depois na ata. "Mas o Comitê não tem trabalhado assim. Por isso, a tendência é de virem com mais um 0,25 ponto", diz Pereira. Se o Copom acreditar que poderá voltar ao ritmo de 0,50 ponto, abandonado em janeiro, só o fará depois que sinalizar em ata essa intenção. É por esta razão que o mercado está, operacionalmente, mais interessado no que acontecerá dia 26 (divulgação da ata) do que na reunião do dia 18, o da decisão em si.
O consultor Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor - único dos analistas ouvidos pelo Valor que defende para já o corte de 0,50 ponto - argumenta que todos os fatores indicam a necessidade de o Copom voltar a acelerar a velocidade de queda da Selic. A revisão do PIB de 2006 mostrou ao BC que ele não tem de temer, como demonstrou nas últimas atas do Copom, os efeitos retardados das baixas já feitas no juro básico sobre a atividade econômica. O Copom cortou a Selic ao longo de 2006 e a inflação não explodiu apesar de o PIB ter crescido 3,7%, acima do ponto de equilíbrio anterior, a barreira de 3,5% considerada dogma pelo BC. O retorno do ritmo de 0,50 ponto é importante também porque, na visão de Daoud, irá acentuar a curva negativa do juro futuro. E isso já passará a inibir as arbitragens cuja conseqüência é a derrubada do dólar à vista.
O chefe de análises da CMA, Luiz Francisco Rogê Ferreira, diz que não é do interesse do BC agir monetariamente para desvalorizar o real. "Certamente a economia crescerá mais aceleradamente daqui para a frente, mas ainda baseado fortemente no consumo. Se avaliarmos o efeito que um câmbio sobrevalorizado pode ter sobre a inflação, entendemos porque o BC não tem interesse em ter o câmbio desvalorizado", diz o economista.
O economista da MB Associados Sergio Vale acredita que os dois fatores que mudaram significativamente desde a última reunião do Copom - o novo PIB e o câmbio mais apreciado - "não me parecem motivos fortes" para o BC voltar atrás agora em sua decisão de conduzir a política monetária com pendor parcimonioso. "Acredito que o BC vai seguir sua própria máxima de esperar os efeitos maiores do afrouxamento que ele já fez. O argumento de que a Selic já caiu muito e que o BC espera o resultado disso na atividade deve continuar sendo usado com mais intensidade", diz Vale. A volatilidade dos mercados internacionais também pesa na preservação da cautela.
Paulo Valente, da Profit Consultoria, integra o vasto time de analistas que crava aposta seca de mais um corte de 0,25 ponto, mas pessoalmente acredita que a velocidade da baixa deveria aumentar. Mas prevalece a prudência no BC, na sua opinião, porque não "há no Brasil uma experiência clara do que é uma taxa de juros real baixa ex-ante, isto é, a taxa esperada para o futuro com a inflação atual ou projetada", diz Valente. Mas, no seu entender, "está na hora de provarmos qual o limite inferior dos juros no equilíbrio brasileiro". Se eventualmente houver um "excesso de queda" mais à frente há sempre o recurso de manter a taxa ou até fazer um pequeno ajuste para cima. O mundo não vai desabar por causa disso, nem o BC perder sua credibilidade.
A maior parte dos especialistas entende que a troca no comando da diretoria de Política Monetária altera o perfil conservador do Copom. Paulo Tenani, estrategista do UBS Wealth Management, diz que, gradativamente, a diretoria do BC "vai convergindo para uma composição mais adaptada a uma realidade de juros mais baixos". No seu entender, podem estar aumentando as chances de um retorno dos cortes de 0,50 ponto, "se não nesta, nas próximas reuniões". Isto não tem influência imediata sobre a tendência do dólar, já que o diferencial de juros persistirá muito amplo. Apenas quando a Selic cair abaixo de 10%, o viés de apreciação poderá ser mudado.
O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, acredita que, tecnicamente, a revisão do PIB dá margem, mesmo com todo o conservadorismo e a cautela do Copom, para um ritmo mais acentuado nos cortes. O Copom poderia perfeitamente já cortar 0,50 agora e se explicar depois na ata. "Mas o Comitê não tem trabalhado assim. Por isso, a tendência é de virem com mais um 0,25 ponto", diz Pereira. Se o Copom acreditar que poderá voltar ao ritmo de 0,50 ponto, abandonado em janeiro, só o fará depois que sinalizar em ata essa intenção. É por esta razão que o mercado está, operacionalmente, mais interessado no que acontecerá dia 26 (divulgação da ata) do que na reunião do dia 18, o da decisão em si.
O consultor Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor - único dos analistas ouvidos pelo Valor que defende para já o corte de 0,50 ponto - argumenta que todos os fatores indicam a necessidade de o Copom voltar a acelerar a velocidade de queda da Selic. A revisão do PIB de 2006 mostrou ao BC que ele não tem de temer, como demonstrou nas últimas atas do Copom, os efeitos retardados das baixas já feitas no juro básico sobre a atividade econômica. O Copom cortou a Selic ao longo de 2006 e a inflação não explodiu apesar de o PIB ter crescido 3,7%, acima do ponto de equilíbrio anterior, a barreira de 3,5% considerada dogma pelo BC. O retorno do ritmo de 0,50 ponto é importante também porque, na visão de Daoud, irá acentuar a curva negativa do juro futuro. E isso já passará a inibir as arbitragens cuja conseqüência é a derrubada do dólar à vista.
O chefe de análises da CMA, Luiz Francisco Rogê Ferreira, diz que não é do interesse do BC agir monetariamente para desvalorizar o real. "Certamente a economia crescerá mais aceleradamente daqui para a frente, mas ainda baseado fortemente no consumo. Se avaliarmos o efeito que um câmbio sobrevalorizado pode ter sobre a inflação, entendemos porque o BC não tem interesse em ter o câmbio desvalorizado", diz o economista.
O economista da MB Associados Sergio Vale acredita que os dois fatores que mudaram significativamente desde a última reunião do Copom - o novo PIB e o câmbio mais apreciado - "não me parecem motivos fortes" para o BC voltar atrás agora em sua decisão de conduzir a política monetária com pendor parcimonioso. "Acredito que o BC vai seguir sua própria máxima de esperar os efeitos maiores do afrouxamento que ele já fez. O argumento de que a Selic já caiu muito e que o BC espera o resultado disso na atividade deve continuar sendo usado com mais intensidade", diz Vale. A volatilidade dos mercados internacionais também pesa na preservação da cautela.
Paulo Valente, da Profit Consultoria, integra o vasto time de analistas que crava aposta seca de mais um corte de 0,25 ponto, mas pessoalmente acredita que a velocidade da baixa deveria aumentar. Mas prevalece a prudência no BC, na sua opinião, porque não "há no Brasil uma experiência clara do que é uma taxa de juros real baixa ex-ante, isto é, a taxa esperada para o futuro com a inflação atual ou projetada", diz Valente. Mas, no seu entender, "está na hora de provarmos qual o limite inferior dos juros no equilíbrio brasileiro". Se eventualmente houver um "excesso de queda" mais à frente há sempre o recurso de manter a taxa ou até fazer um pequeno ajuste para cima. O mundo não vai desabar por causa disso, nem o BC perder sua credibilidade.
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