Banco Central paga caro ...
* coluna de Luiz Sérgio Guimarães (Valor Econômico, 12/02/07)
Tudo o que o Banco Central quiser comprar de dólar o mercado estará disposto a vender. Isso porque o BC está pagando pela moeda americana mais do que os tesoureiros acreditam que ela valha. Após quatro dias abaixo de R$ 2,10, o dólar fechou sexta-feira a R$ 2,1090, com valorização de 0,71%, graças a pesada atuação do BC.
Para mostrar que não errou a mão monetária quando, no dia 24 de janeiro, cortou pela metade a velocidade de queda da Selic, o BC abandonou explicitamente o objetivo formal de suas intervenções cambiais. Ele não está mais comprando dólar com a finalidade exclusiva de "recompor as reservas cambiais". Até porque as reservas - já em US$ 93,4 bilhões - estão em patamar historicamente alto, que não precisa ser recomposto . Os leilões de compra de dólar desfechados por ele nos três últimos dias da semana passada tiveram o claro objetivo de puxar a cotação de dólar para cima. Na sexta-feira, ao aceitar 13 propostas pela taxa de corte de R$ 2,1020 e retirar do sistema cerca de US$ 600 milhões, ele conseguiu alcançar a meta de trazer de volta o dólar para cima da linha psicológica dos R$ 2,10, depois que a moeda afundou a R$ 2,0860 na terça-feira.
Para alegria do mercado: se o dólar vale R$ 1,90, é um excelente negócio vendê-lo ao BC por R$ 2,1020. A demonstração de força visa adicionalmente reconfirmar a tese do BC de que, se o dólar cai, é porque está entrando muito fluxo via balança comercial. Se o dólar à vista estivesse cedendo por causa das operações com a moeda fechadas nos mercados futuros - tese defendida na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para rechaçar a necessidade de um controle de capitais - as compras do BC não teriam efeito algum.
Visando ampliar ainda mais seu poder de fogo e atuar também no mercado futuro, o BC agora se prepara para voltar com os "swaps reversos". Hoje, ele faz uma pesquisa no mercado para saber a real demanda pelo instrumento.
Mas, o dólar vale R$ 1,90? Qual o preço correto e real para a moeda americana nas condições atuais da economia brasileira? Esta é a pergunta que assanha hoje o mercado financeiro pois a sua resposta vale um milhão de dólares. Quando os tesoureiros rodam os seus modelos econométricos chegam à conclusão que, em breve, o dólar estará entre R$ 1,80 e R$ 1,90. Só que, para o mercado e suas operações destinadas a maximizar aqui e agora os lucros, o futuro é hoje. E os investidores tendem a buscar o preço já.
Os modelos levam em consideração, como variáveis-chave, os juros básicos, o risco-país e o volume de reservas internacionais. A peça que movimenta todo o jogo é a Selic. Se o Copom insistir, como sinalizou, no ritmo mais conservador de corte da taxa básica - de 0,25 ponto por reunião - logo o risco-país descerá a 160 pontos-base e as reservas chegarão a US$ 100 bilhões. Nessas condições, para que o dólar não bata logo nos R$ 1,90, o BC terá de comprar dólar em quantidade muito maior do que vem fazendo. A armadilha no qual o BC se colocou com a diminuição da velocidade de queda da Selic consiste no fato de que, quanto mais reservas juntar, mais baixos serão o risco-país e o dólar. Em algum momento, a coisa estoura.
O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, diz que o fracasso do pacote cambial anunciado pela Fazenda no ano passado não é difícil de ser explicado e entendido. "O forte fluxo das exportações brasileiras - motivado pela acentuada elevação dos preços das commodities - não foi o único fator responsável pela valorização do câmbio. Com a queda abrupta do risco-país, a taxa de juros de equilíbrio reduziu-se rapidamente, porém, essa redução não foi acompanhada por um correspondente declínio da taxa Selic", diz Pereira. Faltou a Fazenda combinar com o BC.
Uma rápida conta feita por Pereira mostra isso. Atualmente, com uma taxa nominal de juros nos EUA de 5,25% ao ano, ao lado de um EMBI Brasil em torno de 180 pontos-base, existe espaço para que o país opere com juros reais de cerca de 7% ao ano. "Isto implica dizer que, com juros reais de equilíbrio de 7% e uma meta de inflação de 4,5%, seria possível, neste momento, praticar-se uma Selic de 11,5% ao ano, sem qualquer transtorno para a estabilidade monetária", diz o economista.
Resta saber se os cinco integrantes do Copom que, no dia 24 de janeiro, votaram pelo freio monetário terão a independência e a autonomia necessárias para reconhecer o erro e repará-lo no dia 7 de março (próximo Copom) por meio de uma queda de 0,75 ponto da Selic, capaz, pelo menos, de restituir a velocidade anterior. É claro que a confissão do erro presume a existência de uma vontade original em acertar. E talvez o BC tenha acertado. O cenário de dólar a R$ 1,90 terá de ser checado esta semana. O dado básico que o sustenta e que torna distorcida a política monetária brasileira é o viés de baixa posto ao juro americano pelo Federal Reserve (Fed) em sua última reunião, realizada no dia 31 de janeiro. O presidente do Fed, Ben Bernanke, dará um depoimento ao Congresso na quarta-feira e deve voltar ao tema.
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