MARCEL PEREIRA

28 fevereiro 2007

PIB do Brasil é, de novo, lanterninha na América Latina

Matéria publicada na Gazeta Mercantil (segunda-feira, 27 de fev de 2007)
O tamanho do Estado, com ênfase no déficit progressivo da Previdência Social, é apontado por analistas como o principal fator para que a economia brasileira figure, há anos, entre os piores resultados de expansão e o País não consiga aproveitar na sua potencialidade um dos períodos mais longos de benesse no cenário mundial. Não se compara aqui nem mesmo com os países asiáticos, mas com os próprios vizinhos como a Venezuela, com crescimento projetado de 10%, ou ainda com Peru e Uruguai, cujas estimativas de expansão são de 7,2% e 7,3%, respectivamente (veja tabela ao lado), de acordo com relatório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).
Ricardo Amorim, diretor-executivo para mercados emergentes e América Latina do banco WestLB, lembra que enquanto os gastos, na média, dos países latino-americanos com previdência social do setor público são de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil, esse percentual chega a 8% - destinados a pagar 1,2 milhão de aposentados. "É claro que esse não é o único motivo da menor expansão da economia brasileira, mas é disparado o maior problema", afirma.
Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores, complementa sustentando que o sistema atual é insolvente e não há programa ou disposição do governo para resolver essa escalada crescente do déficit. "Temos que repetir esse mantra, pois a resolução deste problema é a base que pode fazer com que sobre mais recursos para investimentos em infra-estrutura e educação, por exemplo", ressalta Pereira. O economista da RC Consultores ressalta ainda que o pouco de crescimento que o Brasil vem obtendo deve-se a dois fatores. O primeiro é aos bons ventos da economia mundial, que vem carregando as economias que estão "mais azeitadas", ou seja, que fizeram suas reformas estruturais. É justamente aí, diz Pereira, que o Brasil perde outra oportunidade, pois não terminou seu processo de ajuste. "Temos estabilidade da moeda, superávit primário, contenção dos déficits de estatais, estados e municípios, mas ainda falta ajustar a esfera federal". Pereira reconhece que o perfil de gasto assistencialista sustenta a classe de mais baixa renda, que usa os recursos para sobreviver, mas ressalta que a estrutura atual faz com que não sobre recursos para investimentos públicos. "E não há crescimento sem um nível maior de investimentos do que os cerca de 20% do PIB atuais", sentencia.