MARCEL PEREIRA

21 novembro 2007

Atenção com a China!

Desde o dia 16 de outubro até ontem, o índice Shangai SE, da Bolsa de Valores da China, sofreu uma queda acumulada de 13,1%. É a maior perda de valor verificada no mercado chinês nos últimos anos. E o detalhe mais importante de todos é: pela primeira vez a forte queda ocorre de forma não induzida pelo governo local. Será este um primeiro sinal de rompimento na bolha bursátil chinesa?
Desde quando estourou a crise dita do “mercado imobiliário” norte-americano, a Bolsa de Xangai se mantinha ascendente. Todos os mercados internacionais sofreram fortes turbulências: EUA, Europa, Japão e todos os seus “satélites”. A China não. Muito pelo contrário.
Enquanto em todos os mercados, a opção de investimento migrou para ativos de menor propensão a risco, o forte crescimento econômico chinês atraiu os investidores que desejavam manter suas carteiras com aplicações de alto retorno. Assim, as ações chinesas aceleraram sua vertente altista.
Mas mesmo antes de estourar a “Bolha Imobiliária” norte-americana, a intensidade com que vinha se valorizando a Bolsa de Xangai já impressionava. O crescimento do Shangai SE em 2006 foi de 125,8%. Em 2007, até 16 de outubro, acumulava-se um crescimento no ano de 140,7%. Isto quer dizer que uma carteira de ações adquirida no início de janeiro de 2006, poderia estar valendo 441,6% a mais. É muita coisa! Em algum momento estes preços necessitarão correção. Tal movimento pode ter recém começado. Quais seriam as conseqüências?
Hoje, as conseqüências da crise no financiamento “subprime” no mercado imobiliário norte-americano já foram em boa parte quantificadas. Os grandes bancos tiveram perdas de bilhões de dólares: Citigroup, JP Morgan Chase, Bank of America Wachovia, Bearn Stearns e BNP Paribas já mostraram números sinalizando a intensidade do golpe. A situação financeira nos EUA demonstrou-se em estado tão delicado que Henry Paulson, o hiper-ativo secretário do Tesouro de George W. Bush, lançou o MLEV - Master Liquidity Enhancement Vehicle -.
Quantificadas as perdas, diminui-se a aptidão de se manter carteiras com aplicações de maior retorno. É necessário se resgatar investimentos para se tapar os buracos deixados no fluxo de caixa. E é, em parte, isto o que está provocando este escape da bolsa de Xangai.
Comparativamente, entre 16 de outubro e 20 de novembro, enquanto a queda do Shangai SE foi de 13,1%, a do Dow Jones, nos EUA, foi de 6,5%. Neste mesmo período também tiveram queda os índices de: Tóquio 11,2%, Londres 5,9%, Paris 4,6% e Frankfurt 4,2%.

Dentro deste game conjuntural novo, a próxima jogada para os mega-investidores internacionais é tentar minimizar as perdas de um eventual derretimento do mercado chinês. A questão é: este movimento, dependendo da escala em que aconteça, pode afetar toda a economia mundial.
Grandes perdas financeiras provocadas por uma desaceleração na Bolsa de Xangai implicariam em alguns pontos percentuais a menos no crescimento no nível de atividade dos demais países. Seria um caso de “hard landing” mundial, com forte impacto sobre os fluxos comerciais internacionais e com um derretimento dos preços das commodities, sobretudo as minerais, causando grandes perdas de arrecadação nos mercados emergentes.
Entretanto, um soft game, ainda é, a princípio, o mais provável, com ciclos pontuais de queda no valor das ações em Xangai. Nesse caso, caminhando para um gradual movimento de correção nos preços de cotação, desinflando a “bolha bursátil chinesa”. Mas será que os especuladores ficarão gradualistas diante de perdas prospectivas?É preciso muita atenção a estes movimentos durante as próximas semanas. A intensidade com que ocorrerá tal ajuste representa uma sutil, porém complexa, distância que separará, nos próximos anos, uma economia mundial saudável de uma conjuntura caótica. As cartas estão na mesa.


12 novembro 2007

Preços ao consumidor sob pressão altista no fim deste ano

As últimas variações dos índices de preço ao consumidor dão razão à ata do Copom: “elevou-se a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venha a apresentar riscos para a trajetória de inflação doméstica, uma vez que o aquecimento da demanda pode ensejar aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor”.
Neste momento, há um conjunto de razões que eleva o risco de alguma aceleração inflacionária:
1) Nos últimos três meses, a inflação acumulada no atacado (IPA-M) atingiu a desconfortável marca de 4,63%;
2) Preços internacionais das commodities agrícolas ainda mostram trajetória ascendente, exercendo pressão altista sobre o preço dos alimentos nos EUA, Europa, Japão e China;
3) Maior nível de renda das famílias reforça a possibilidade de repasse da inflação localizada no âmbito do atacado para a esfera do varejo;
4) Sazonalmente, os índices de preços ao consumidor sobem no final do ano, por causa das encomendas para as festas natalinas. Com maior nível de renda, o consumidor de bens e serviços deste ano estará “menos sensível” às tentativas de repasse eventualmente praticadas pelo varejo.
O IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Ampliado) de outubro revelou-se razoavelmente pressionado (0,30%), levando a inflação acumulada nos dez primeiros meses do ano a atingir a marca de 3,30%; e a acumulada nos últimos doze meses, o patamar de 4,12%.
Decompondo-se a variação acumulada do referido índice nos dez primeiros meses deste ano, observa-se que as maiores pressões de preços tiveram origem nos alimentos (+ 7,5%) e nas despesas pessoais (+ 5,0%). Ou seja, atingiu-se de forma mais contundente o bolso dos consumidores de menor poder aquisitivo.
A comparação entre dois índices de preço ao consumidor reitera o aperto sofrido pelo orçamento das famílias com renda mais baixa. O IPCA, calculado pelo IBGE, e que reflete a evolução dos gastos de famílias com rendimentos mensais de até 40 salários-mínimos, acumula variação em doze meses de 4,12%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também calculado pelo IBGE, junto a famílias com rendimentos mensais de até 8 salários-mínimos, acumula variação mais alta, de 4,78%, nos últimos doze meses.
Outros índices reiteram esta constatação. O Índice de Custo de Vida (ICV), calculado pelo DIEESE (Departamento intersindical) na região metropolitana de São Paulo, junto a famílias com rendimentos mensais de até 10 salários-mínimos, acumula variação semelhante ao INPC, de 4,86%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela FIPE, também restrito à região metropolitana de São Paulo, englobando famílias com rendimentos mensais de até 20 salários-mínimos, acumula variação similar, de 4,55%. Por fim, o Índice de Preços ao Consumidor calculado pela Fundação Getúlio Vargas (IPC-BR), junto a famílias com rendimentos mensais de até 33 salários-mínimos, acumula variação, nos últimos doze meses, de 4,51%. Ou seja, as condições observadas em 2006 estão agora invertidas. E quem sofre mais com a inflação é a camada de baixo da pirâmide sócio-econômica.
Como os índices de preços no atacado continuam evoluindo com taxas mensais não muito modestas, parece inevitável que a pressão inflacionária perdure no final deste ano e início de 2008. Ainda assim, inexiste risco de que a variação do IPCA supere, seja em 2007, seja em 2008, o centro da meta de inflação estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), isto é, a marca de 4,5%.

01 novembro 2007

A maior qualificação dos ativos brasileiros

Os resultados da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nas últimas semanas podem ser usados para corroborar a afirmação de que houve uma alteração na percepção de risco por parte dos investidores em relação ao mercado nacional.
Depois da queda abrupta que atingiu as bolsas internacionais, cujo estopim foi a crise imobiliária norte-americana, houve forte recuperação do Ibovespa, o que demonstra a grande atratividade exercida pela economia brasileira frente às outras economias, inclusive as emergentes.
Esse fato deriva da percepção de risco fortemente cadente do investidor estrangeiro, que aumentou a procura pelo mercado de capitais brasileiro, demonstrando otimismo com relação à forma pela qual o Brasil atravessou o período de turbulência.
Contando com expressivo colchão de reservas; nível de endividamento externo mais alinhado ao fluxo de comércio exterior e composição de dívida interna menos vulnerável a choques externos, a volatilidade cambial diminuiu. Isso permitiu melhorar a sensação de estabilidade econômica, deixando o mercado brasileiro ainda mais atrativo.
Para ilustrar a qualificação dos ativos brasileiros frente aos de outras economias emergentes, façamos uma comparação do Ibovespa com os índices das outras duas maiores bolsas da América Latina: o Merval, da Argentina, e o IPC, do México.
A comparação fica ainda mais válida quando se observa que uma dessas economias já tem o “grau de investimento” (México) e a outra tem nota de risco soberano em escala bem inferior à dada ao Brasil (Argentina).
Até 30 de julho, a Bovespa tinha acumulado uma rentabilidade de 30,5%. O Dow Jones, principal índice dos EUA, 11,9%; a bolsa mexicana, 21,6%; e a bolsa argentina, 10,2%. Após esta data, todas tiveram expressivas perdas. O Merval, inclusive, chegou a apresentar rentabilidade, acumulada no ano, negativa. Os quatro índices foram ao “fundo do poço” em 16 de agosto.
Desde então, as referidas bolsas começaram a recuperar-se. Todavia, pode-se observar que enquanto a Bolsa de São Paulo já vem apresentando resultado mais expressivo do que em 30 de julho, só agora as demais bolsas recuperam a rentabilidade que tinham “pré-crise”. No ano, o Ibovespa acumula rentabilidade de 46,3%; o IPC, de 21,4%; o Dow Jones de 11,3%; e o Merval de 11,8%.
A enorme rentabilidade alcançada pela Bolsa de São Paulo só endossa aquilo que os números do balanço de pagamentos já tinham mostrado antes: o expressivo aumento do investimento estrangeiro tanto direto, quanto em carteira. São provas inequívocas de que os investidores passam a diferenciar, positivamente, o mercado brasileiro.