MARCEL PEREIRA

25 outubro 2007

Ata do Copom é bem clara ...

Quem for à procura de mensagens novas na ata que o Copom (Comitê de Política Monetária) divulgou nesta quinta-feira, não achará. A ata sugere que as razões que levaram à interrupção já haviam sido explicitadas na ata da reunião anterior.
O documento também parece endossar que a decisão de interromper o ciclo de quedas não significou o fim nas reduções da Selic, tão só foi uma decisão visando esperar que a conjuntura se assente, para que se avalie melhor os efeitos da corrente pressão inflacionária no atacado e o comportamento futuro do preço do petróleo. O texto faz referência a uma “pausa no processo de flexibilização da política monetária”, ratificando o espaço para que no futuro se retome o ciclo de reduções da taxa de juros.
A explicação é a mesma: “..se elevou a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venha a apresentar riscos para a trajetória de inflação doméstica, uma vez que o aquecimento da demanda pode ensejar aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor. Adicionalmente, cabe notar que o aquecimento da demanda doméstica pode desencadear pressões inflacionárias no setor não transacionável” (grifo meu na ata da 129ª reunião, divulgada em 13 de setembro).
A ata distribuída nesta quinta projeta a taxa de câmbio em R$ 1,80 por dólar até o fim de 2007, constata que as projeções para a meta de inflação sofreram redução desde a reunião anterior, e ratifica que tais estimativas mantêm a taxa de inflação prevista, tanto para 2007 quanto para 2008, abaixo do valor central de 4,5% estipulado como meta. Em suma, todo o movimento de conjuntura ocorrido entre as duas reuniões até sugeririam a possibilidade de um novo corte sem que ele representasse um risco de descumprimento da meta. Porém, as possíveis pressões desencadeadas pelos preços no atacado sobre o setor não transacionável seriam a justificativa para uma maior prudência.

19 outubro 2007

Manutenção da Selic não representa fim do ciclo de quedas

O Copom (Comitê de Política Monetária) demonstrou coerência e precaução quando decidiu manter os juros básicos em 11,25% ao ano. Tal decisão, entretanto, não significa o fim do ciclo de queda da Selic. Procura apenas esperar que a conjuntura se assente, visando avaliar melhor os efeitos da corrente pressão inflacionária no atacado e o comportamento futuro do preço do petróleo. Após a passagem dessas “nuvens” (e salve reversão mais brusca no cenário internacional), a expectativa é que o Copom retome a trajetória de redução dos juros no país.
Sazonalmente, o último trimestre do ano é um período de alta dos preços ao consumidor, por conta do aumento nas encomendas para as festas de fim de ano. Neste ano, há importante risco de que essa alta seja mais acentuada. Os últimos resultados do Índice de Preço no Atacado (IPA) mostraram forte elevação, e as primeiras prévias de outubro trazem ainda variações positivas bastante expressivas.
O momento atual de expansão da renda reforça a possibilidade de que haja importante repasse da inflação localizada no âmbito do atacado para a esfera do varejo. Com o bolso dos consumidores mais cheio do que nos anos anteriores, o aumento do preço dos bens e serviços não deverá comprometer o comportamento da demanda, podendo, assim, ser mais “tolerante” com a transferência da alta do custo dos insumos para o preço do produto final.


De todo o modo, é baixo o risco de comprometimento da meta de inflação, tanto para 2007, como para 2008, em função, principalmente, da recente redução da taxa média de câmbio, que transitou do patamar de R$ 1,95 / US$ para algo em torno de R$ 1,80 / US$, estabelecendo, aparentemente, um novo “centro de gravidade”.
Quanto ao reinício do ciclo de queda da taxa Selic, acredita-se que o mesmo só ocorra no primeiro semestre do ano que vem, depois da dissipação das atuais nuvens e do alcance de maior clareza e convergência de pensamento em relação ao comportamento futuro da inflação brasileira.

18 outubro 2007

O Legado de 2007

A psicologia define que crises podem ser benéficas ou maléficas, dependendo dos fatores que a formem e das conseqüências que fiquem gravadas no inconsciente. Toda crise é um momento de vulnerabilidade, mas nem toda é uma situação de risco. Há limiares, de caso a caso. Na economia, a diferença é que os efeitos da crise atingem um grupo (a sociedade), ficando mais fácil aprender as lições deixadas. Não existem crises iguais.
Qual lição - ou legado - deixará o ano de 2007, e a “crise do subprime”, para a história econômica?
Os investidores no mercado de capitais auferem ganhos diários em cima das margens de retorno lhes dada pela conjuntura de curto prazo. Propensos sempre ao risco, costumam manter suas atenções nas ameaças imediatas às suas alavancagens. Porém, quando toda a macroeconomia se mexe ao mesmo tempo, é como se o horizonte deixasse de ser linear.
Se há um legado que o ano de 2007 deixará, é o de ratificar a importância dos
riscos de natureza macroeconômica, e de dar ênfase à importância de impulsos econômicos sustentáveis. O Século XXI parecia estar esquecendo tal lição. Quando o Federal Reserve manteve a taxa de juros a 1%, entre 2002 e 2004, sem que houvesse a preocupação com os gastos públicos norte-americanos, inflou uma bolha no mercado de títulos derivados das hipotecas nos EUA. Em 2007, a bolha estourou, afetando todos os mercados.
Quando decidiu, em 18 de setembro, reduzir os juros de 5,25% para 4,75% ao ano, o Fed injetou liquidez na economia. Afastou os riscos de curto prazo e acalmou os mercados. Mas, logo surgiram temores de que a redução nos juros internacionais gerará impulsos desmedidos nas economias emergentes, a exemplo do acontecido em 1998, quando o Fed, em resposta às crises na Ásia (Tigres e Rússia), cortou os juros, inflando as ações de tecnologia, e formando a bolha que estourou em 2000. Será que a história poderia se repetir?
Há uma grande diferença. Em 1998, a economia dos Estados Unidos era muito mais sólida, e as emergentes eram muito mais vulneráveis. O resultado fiscal norte-americano era superavitário em US$ 70 bilhões e hoje é deficitário em US$ 240 bi; o déficit comercial era de US$ 165 bi, hoje é de US$ 730 bi. Sua economia está mais debilitada, ao mesmo tempo em que os mercados emergentes, com volumes maiores de reservas e taxas flutuantes de câmbio, têm maior resistência a choques externos. O Brasil é o melhor exemplo de redução de vulnerabilidade; há dez anos sua divida externa representava 5 vezes as exportações em doze meses, hoje esta proporção é de 1,2 vez. Mas nada disso significa que o risco inexista.
Há ameaças de natureza macroeconômica camufladas por trás desta nova conjuntura global. O nível de atividade mundial será gravemente atingido se houver uma reversão da expansão chinesa, implicando em forte redução nos fluxos comerciais e numa expressiva queda do preço das commodities. O estopim poderia já estar em curso: uma “Bolha Bursátil Chinesa”.A Bolsa de Valores de Xangai viveu nos últimos 21 meses um inchaço alarmante: o índice Shangai SE teve uma valorização de 375% desde o início de 2006. O risco é ainda maior porque a China não tem acompanhamento minucioso e de qualidade de sua “pulsação econômica”. Esta ausência de medidores de “pressão e temperatura” faz com que o risco de desaceleração fique maior. Um eventual derretimento de valor das ações geraria perdas generalizadas, com danos potenciais para a economia global. Que as lições de 2007 sirvam para enxugar as pujanças excessivas.