Explicações para a inflação baixa
Este artigo será publicado no caderno de economia do Jornal do Brasil no próximo domingo, 21 de janeiro.
Apesar de ainda não ter conseguido reengatar a marcha do crescimento acelerado, o Brasil conseguiu dar um salto de qualidade importante na economia. O controle da inflação teve papel de destaque nessa “reengenharia”.
A estabilidade de preços na Era do Real foi uma das principais peças na engrenagem do ajuste macroeconômico, com um maior controle de gastos públicos viabilizando o controle da inflação. O Brasil progrediu à medida que, além de controlar preços, conseguiu uma gradativa estabilização das contas externas a partir da mudança do regime cambial, uma significativa redução da dívida externa e uma importante melhoria na qualidade dos papéis da dívida mobiliária. Foram fatores que, juntos, proporcionaram uma importante reversão no comportamento entre dívida e PIB e solidificaram o quadro conjuntural de redução da percepção do risco sistêmico relativo à sua economia. O país inteiro ganhou com essa melhoria, todas as classes sociais sentiram a diferença no bolso.
Assim o Brasil migrou para uma taxa de inflação baixa. O resultado do IPCA em 2006, de 3,1%, foi bem próximo ao da taxa de inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que fechou o ano próxima a 2,5%.
Mas será que era necessária uma taxa tão baixa assim? Por que não um resultado mais alinhado ao centro da meta perseguida pelo Banco Central (4,5%)? Para explicá-la não basta o conteúdo econômico, é preciso descascar um viés político também. Lula aprendeu com FHC. A última vez que o Brasil teve seu IPCA inferior a 4% foi oito anos antes, em 1998, quando a inflação ficou em 1,66%. Não por coincidência, 1998 e 2006 foram os anos em que FHC e Lula conseguiram, respectivamente, ser reeleitos. Em 2007, o IPCA voltará a se alinhar a um nível próximo a estes 4,5%.